A combinação de ivosidenib – um inibidor da mutação no gene de isocitrato desidrogenase 1 (IDH1) – e azacitidina mostrou atividade clínica encorajadora em estudo de fase 1b que envolveu pacientes com leucemia mieloide aguda com mutação IDH1 recém diagnosticados. Agora, Montesinos et al. apresentam resultados de estudo randomizado de Fase 3, em artigo publicado 21 de abril na New England Journal of Medicine, corroborando o benefício dessa combinação nessa população de pacientes. O estudo tem participação do oncohematologista Rodrigo do Tocantins Calado (foto), da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.
Neste estudo de fase 3, pacientes com leucemia mieloide aguda com mutação em IDH1 recém-diagnosticados e inelegíveis para quimioterapia de indução foram randomizados para receber ivosidenib oral (500 mg uma vez ao dia) e azacitidina subcutânea ou intravenosa (75 mg/m2 por 7 dias em ciclos de 28 dias) ou para receber placebo e azacitidina. O endpoint primário foi a sobrevida livre de eventos, definida como o tempo desde a randomização até a falha do tratamento (ou seja, o paciente não teve remissão completa na semana 24), recaída da remissão ou morte por qualquer causa, o que ocorrer primeiro.
Os resultados reportados agora na NEJM mostram que 146 pacientes compuseram a população com intenção de tratar: 72 no grupo ivosidenib e azacitidina e 74 no grupo placebo e azacitidina. Em um acompanhamento pela mediana de 12,4 meses, os autores descrevem que a sobrevida livre de eventos foi significativamente maior no grupo ivosidenib e azacitidina do que no grupo placebo e azacitidina (razão de risco para falha ao tratamento, recidiva da remissão ou morte, 0,33; intervalo de confiança de 95% [IC], 0,16 a 0,69; P = 0,002).
A sobrevida livre de eventos em 12 meses também foi superior no braço de ivosidenib, com 37% versus 12% no braço controle, assim como a sobrevida global mediana, de 24,0 meses com ivosidenib e azacitidina contra 7,9 meses com placebo e azacitidina (razão de risco para morte, 0,44; IC 95%, 0,27 a 0,73; P = 0,001).
Quando considerados os dados de segurança, os eventos adversos grau ≥ 3 mais frequentes incluíram neutropenia febril (28% com ivosidenib e azacitidina e 34% com placebo e azacitidina) e neutropenia (27% e 16%, respectivamente). A incidência de eventos hemorrágicos de qualquer grau foi de 41% e 29%, respectivamente, enquanto a incidência de infecção de qualquer grau foi de 28% com ivosidenib e azacitidina versus 49% com placebo e azacitidina.
Em conclusão, a combinação de ivosidenib e azacitidina mostrou benefício clínico significativo em comparação com placebo e azacitidina nesta população de difícil tratamento. Neutropenia febril e infecções foram menos frequentes no grupo experimental do que no grupo controle, enquanto neutropenia e sangramento foram mais frequentes no grupo ivosidenibe e azacitidina.
Este estudo (AGILE) está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT03173248.
Referência: Ivosidenib and Azacitidine in IDH1-Mutated Acute Myeloid Leukemia - Pau Montesinos, M.D., Ph.D., Christian Recher, M.D., Ph.D., Susana Vives, M.D., Ewa Zarzycka, M.D., Jianxiang Wang, M.D., Giambattista Bertani, M.D., Michael Heuser, M.D., Rodrigo T. Calado, M.D., Ph.D., Andre C. Schuh, M.D., Su-Peng Yeh, M.D., Scott R. Daigle, M.S., Jianan Hui, Ph.D., et al. - April 21, 2022 - N Engl J Med 2022; 386:1519-1531 - DOI: 10.1056/NEJMoa2117344