Indivíduos com transtornos do espectro do autismo (TEA) têm um risco maior de desenvolver câncer? Embora estudos anteriores tenham sugerido mecanismos de doença compartilhados entre TEA e câncer, estudo de Liu et al. reportado no Annals of Oncology mostra que em uma grande coorte populacional o TEA sozinho (ou seja, sem deficiência intelectual comórbida ou defeitos congênitos) não foi associado ao risco aumentado de qualquer câncer (OR 1,0, IC 95% 0,8-1,2).
Neste estudo de coorte de base populacional, Liu et al incluíram 2,3 milhões de indivíduos nascidos vivos na Suécia de 1987-2013, com acompanhamento até 2016 (até 30 anos). Os indivíduos com TEA foram verificados através do Registro Nacional de Pacientes da Suécia. Os pesquisadores estimaram o risco relativo de câncer em relação ao TEA por odds ratio (ORs) e intervalos de confiança de 95% (ICs) por regressão logística, após ajuste para possíveis fatores de confusão. Análise de correlação genética também foi realizada comparando irmãos, para avaliar potencial pleiotropia poligenética entre TEA e câncer.
“Observamos aumento geral do risco de qualquer câncer entre indivíduos com TEA (OR 1,3, IC 95% 1,2-1,5), em comparação com indivíduos sem TEA. A associação para qualquer câncer foi observada principalmente para transtorno autista definido (OR 1,7, IC 95% 1,3-2,1) e TEA com defeitos congênitos comórbidos (OR 2,1, IC 95% 1,5-2,9) ou ambos os defeitos congênitos e deficiência intelectual (OR 4,8, 95% CI 3,4-6,6)”, descrevem os autores. Os resultados da análise também apontam risco de câncer em indivíduos com TEA com deficiência intelectual comórbida (OR 1,4; IC 95% 0,9-2,1), embora não tenha sido estatisticamente significativo.
O TEA sozinho (ou seja, sem deficiência intelectual comórbida ou defeitos congênitos) não foi associado ao risco aumentado de qualquer câncer (OR 1,0, IC 95% 0,8-1,2). A comparação entre irmãos e a análise de correlação genética mostraram pouca evidência de confusão familiar ou confusão devido à pleiotropia poligenética entre TEA e câncer.
Em conclusão, Liu et al. analisam que o TEA per se não está associado a um risco aumentado de câncer no início da vida. O risco aumentado de câncer entre indivíduos com TEA provavelmente é atribuído principalmente à deficiência intelectual concomitante e/ou defeitos congênitos no TEA, destacam os autores.
O transtorno do espectro autista (TEA), caracterizado por prejuízo na comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos, afeta 1-2% da população mundial.
A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto.
Referências: Liu Q, Yin W, Meijsen JJ, Reichenberg A, Gådin JR, Schork AJ, Adami HO, Kolevzon A, Sandin S, Fang F, Cancer risk in individuals with autism spectrum disorder, Annals of Oncology (2022), doi: https://doi.org/10.1016/j.annonc.2022.04.006.