A histerectomia radical aberta demonstrou melhores resultados no tratamento do câncer do colo do útero em estágio inicial em comparação com a cirurgia minimamente invasiva. Os resultados da análise final do estudo LACC (Laparoscopic Approach to Cervical Cancer) foram apresentados por Pedro Ramirez, do MD Anderson Cancer Center, no encontro anual da Sociedade de Oncologia Ginecológica (SGO 2022). "A publicação confirmou os dados parciais publicados em 2018, mostrando a superioridade da técnica aberta sobre a minimamente invasiva", avalia Reitan Ribeiro (foto), , cirurgião oncológico do Hospital Erasto Gaertner e do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP), e diretor científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
O ensaio prospectivo randomizado de não inferioridade incluiu pacientes com câncer cervical estágio IA1 (LVSI)-IB1 (FIGO 2009) com subtipo histológico de carcinoma de células escamosas, adenocarcinoma ou carcinoma adenoescamoso, submetidas a cirurgia aberta ou minimamente invasiva. O objetivo da análise foi avaliar os resultados finais de sobrevida global em 4,5 anos de acompanhamento de todas as pacientes.
Foram avaliados 631 pacientes, sendo 319 submetidas a cirurgia minimamente invasiva (MIS) e 312 à cirurgia aberta. O desfecho primário de sobrevida livre de doença em 4,5 anos.
Resultados
A análise final dos dados do estudo demonstrou que a taxa de sobrevida livre de doença foi menor para a cirurgia minimamente invasiva em comparação com a cirurgia aberta: 43 pacientes com MIS (13,5%) tiveram doença em 4,5 anos em comparação com 11 pacientes com cirurgia aberta (3,5%). A abordagem minimamente invasiva também foi associada a taxas de recorrência quatro vezes maiores em comparação com a abordagem aberta.
As análises de subgrupo dos dados finais também mostraram que a menor sobrevida livre de doença para pacientes submetidas a cirurgia minimamente invasiva foi associada a um tamanho maior do tumor (≥ 2 cm) e as taxas de carcinomatose na recorrência da doença foram maiores para pacientes com MIS (25%) do que para pacientes de cirurgia aberta (0%).
“Esta análise final dos resultados do estudo LACC demonstra que, apesar de ser mais invasiva, a cirurgia aberta oferece menor taxa de recorrência e uma melhor chance de sobrevida livre de doença do que as abordagens cirúrgicas minimamente invasivas”, concluíram os autores.
Ribeiro observa que as análises de subgrupos abrem novas hipóteses se existem grupos de pacientes que podem beneficiar-se das tecnicas minimamente invasivas. "Dois estudos prospectivos utilizando cirurgia robótica estão em andamento e podem acrescentar novas informações à tomada de decisão, mas os resultados ainda devem tardar 5 a 10 anos", afirma.