“Esse é o tipo de evento que eu pagaria para ver”, disse o oncologista Antonio Carlos Buzaid (foto), no encerramento do 20º Destaques ONCO, promovido pela Sanofi Genzyme. A opinião de um dos mais prestigiados nomes da oncologia brasileira ajuda a dimensionar a importância do encontro que já é tradição no calendário da oncologia, este ano em sua vigésima edição. E foi para ilustrar a clássica take home message que Buzaid sintetizou algumas das lições mais importantes de Chicago este ano.
“As coisas mudaram felizmente nesta ASCO”, analisou o especialista. Acompanhe o melhor da ASCO 2017 na análise de Antonio Carlos Buzaid, diretor-geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
“A CAR-T cell é uma modalidade de cura em leucemia linfocítica refratária. Isso vai mudar o modo como se tratam as doenças hematológicas e eventualmente vários tumores sólidos. Cada vez mais nós vamos ouvir falar dessa estratégia de imunoterapia”, sinalizou o especialista ao comentar o primeiro módulo do encontro, dedicado à oncohematologia.
Em mieloma múltiplo, o destaque foi para o uso de daratumumab como agente de segunda linha. “Aumentou a sobrevida e é o novo padrão”, apontou.
No câncer de cabeça e pescoço (CP) não foi um ano de grandes novidades, mas a ASCO mostrou promessas. Uma das apostas é o agente epacadostat. “É o primeiro inibidor da IDO1, enzima que depleta o triptofano e faz aumentar os T-Regs, que têm ação no microambiente tumoral”. O oncologista considerou promissores os dados iniciais apresentados na ASCO em associação com pembrolizumabe e lembrou que uma série de estudos está em desenvolvimento.
No câncer de cólon, o estudo do grupo IDEA definiu o novo padrão de tratamento adjuvante em pacientes de baixo risco estádio III (T1-T3N1), com CAPOX 3 meses ao invés do regime de 6 meses. No cenário metastático, o estudo SUNSHINE de fase II sugeriu benefício da suplementação de altas doses de vitamina D ao esquema mFOLFOX6 + bevacizuzmabe e novos dados são aguardados em estudo de fase III.
Outro dado provocador, segundo Buzaid, foi apresentado no estudo de fase II que avaliou o papel de vemurafenibe na combinação de cetuximab e irinotecano no câncer de colon metastático (HR=0,48). Novamente, são esperados dados adicionais mais maduros.
No câncer gástrico, o estudo alemão FLOT4-AIO com 700 pacientes mostrou aumento de sobrevida global com FLOT neoadjuvante ao invés de ECF, passando a ser o novo padrão ouro de tratamento. “Acho que é um trabalho digno de Plenária”, avaliou Buzaid. “Evidentemente, é um regime para pacientes com estadiamento clínico T≥2 ou N+”, recomendou.
Em tumores de vias biliares, a ASCO 2017 também mostrou avanços. Buzaid mostrou os dados do estudo BILCAP, com evidências do papel da capecitabina como novo padrão de adjuvância no trato biliar.
Evolução
No câncer ginecológico, muita coisa mudou. “No câncer de ovário, a segunda cirurgia de citorredução pode ser beneficial, desde que o paciente preencha os critérios”, apontou o especialista em referência ao estudo DESKTOP III, que impactou a prática clínica.
Outro avanço da oncoginecologia selecionado na take home message do 20º Destaques ONCO foi o estudo LION, do grupo europeu AGO, que mostrou que a linfadenectomia sistemática deve ser evitada no câncer epitelial de ovário (CEO), com maiores taxas de complicação e sem benefício associado.
No câncer endometrial, o especialista apresentou as contribuições do PORTEC III, que mostrou a importância do tratamento com QTRT para pacientes estádio III, assim como destacou os dados do GOG 258, que certamente vão impactar a prática.
Em GU, estudos como LATITUDE e STAMPEDE trouxeram novos dados para o tratamento do câncer de próstata e fizeram parte da análise de Antonio Carlos Buzaid na take home message do 20º DESTAQUES ONCO.
Mas, afinal, o câncer de próstata ingressou na era dos biomarcadores? “Esse dado de que o perfil genético também permite avaliar o comportamento do câncer de próstata também é fantástico, foram mais de 6 mil pacientes, quase 7 mil analisados e você consegue dizer aquele que vai bem e o que não vai. Em um futuro próximo isso vai ser incorporado na nossa prática”, prevê Buzaid, a partir de resultados apresentados na ASCO 2017.
No câncer de bexiga, o oncologista lembrou do papel da imunoterapia em segunda linha, com evidências do KEYNOTE-045, demonstrando ganho de sobrevida global (HR=0,7).
Padrão
Em câncer de mama, o APHINITY foi mencionado como um grande estudo no cenário adjuvante, com 4.805 pacientes, mas com resultados modestos. “O estudo é positivo, mas a magnitude do benefício é pequena”, sintetizou.
Já no cenário metastático, o OlympiAD deve mudar a prática. “É o novo padrão em pacientes com mutação BRCA 1 e 2”, concluiu Buzaid.
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