Onconews - Linfadenectomia hilar esplênica laparoscópica com preservação do baço no câncer gástrico proximal avançado ressecável

Análise secundária post hoc de estudo randomizado que incluiu 536 pacientes com câncer gástrico proximal avançado ressecável mostrou que a gastrectomia total laparoscópica (GTL) com linfadenectomia hilar esplênica laparoscópica com preservação do baço (LSPSHL) versus GTL resultou em uma taxa de sobrevida livre de doença em 5 anos de 63,9% vs 55,1%, diferença estatisticamente significativa. Esses achados apoiam a LSPSHL no câncer gástrico proximal avançado ressecável, em pacientes sem invasão tumoral na curvatura maior. O cirurgião oncológico Felipe Coimbra (foto), Head do Centro de Referência em Oncologia Digestiva Alta e da Cirurgia Abdominal do A.C.Camargo Cancer Center, comenta os resultados.

A linfadenectomia hilar esplênica tem sido recomendada para câncer gástrico proximal localmente avançado envolvendo a curvatura maior. Nesta análise, o objetivo foi apresentar os dados de acompanhamento de 5 anos de ensaio clínico randomizado que comparou gastrectomia total laparoscópica (grupo D2) com D2 mais LSPSHL (grupo D2 + No 10) entre pacientes com câncer gástrico proximal avançado ressecável.

Esta análise secundária post hoc envolveu 536 pacientes com câncer gástrico proximal avançado potencialmente ressecável (cT2-4a, N0 ou N+ e M0) sem invasão da curvatura maior, inscritos de 5 de janeiro de 2015 a 10 de outubro de 2018. Os pacientes foram randomizados (1:1) para os grupos D2+ Nº 10 ou D2 e acompanhados por pelo menos 5 anos, comparando as taxas de sobrevida livre de doença (SLD) e sobrevida global (SG), assim como os padrões de recorrência. O acompanhamento final foi em 30 de outubro de 2023.

Os resultados foram relatados no JAMA Surgery e mostram que a taxa de SLD em 5 anos foi de 63,9% (IC 95%, 58,1%-69,7%) para o grupo D2 + No. 10 e de 55,1% (IC 95%, 49,1%-61,1%) para o grupo D2 (log-rank P = 0,04). Uma diferença estatisticamente significativa foi observada na SG de 5 anos entre o grupo D2 + No. 10 e o grupo D2 (66,2% [IC 95%, 60,4% -71,9%] vs 57,4% [IC 95%, 51,4% -63,4 %]; P = 0,03).

Os autores descrevem que o linfonodo nº 10 apresentou índice de valor terapêutico (IVT) de 6,5, superando o dos nºs 8a (IVT, 3,0), 11 (IVT, 5,8) e 12a (IVT, 0,8). Um total de 86 pacientes no grupo D2 + Nº 10 (incidência cumulativa, 32,7%) e 111 pacientes no grupo D2 (incidência cumulativa, 42,2%) apresentaram recorrência (razão de risco, 0,72; IC 95%, 0,54-0,95; P = ,02). O modelo de regressão de risco competitivo multivariado demonstrou que D2 + Nº 10 permaneceu um fator de proteção independente para a menor taxa de recorrência cumulativa em 5 anos após a cirurgia (razão de risco, 0,75; IC 95%, 0,56-1,00; P = 0,05).

A análise mostra diferença significativa na taxa de recorrência cumulativa em 5 anos na área do linfonodo nº 10 entre os 2 grupos (grupo D2 + nº 10 vs grupo D2: 0% vs 2,3% [n = 6]; P =0, 01).

Em conclusão, esta análise secundária post hoc mostrou que a gastrectomia total laparoscópica com LSPSHL pode melhorar o prognóstico de pacientes e reduzir a recorrência no câncer gástrico proximal avançado ressecável sem invasão de maior curvatura.

Este estudo está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov (NCT02333721).

O estudo em contexto

Por Felipe Coimbra, Head do Centro de Referência em Oncologia Digestiva Alta e da Cirurgia Abdominal do A.C.Camargo Cancer Center

Este estudo recentemente publicado em JAMA Surgery, uma atualização do estudo Fuges-02 , que comparou em pacientes ressecáveis com câncer gástrico proximal avançado (cT2-4a, N0 or N+, M0), porém sem invasão da grande curvatura, a realização gastrectomia total laparoscópica com ou sem linfadenectomia adicional do hilo esplênico (De versus D2 + Grupo 10). Um total de 526 pacientes (392 homens [74,5%]; idade média, 60,6 foram incluídos na análise de intenção de tratar modificada, com 263 pacientes em cada grupo.

Dentre os principais resultados: uma diferença estatisticamente significativa foi observada na sobrevida global em 5 anos entre o grupo D2 + cadeia 10 e o grupo D2 66,2% vs 57,4%; P = 0,03). Os linfonodos da cadeia 10 exibiu índice de valor terapêutico de 6,5, superando o da cadeia ;ara este grupo de pacientes.

Como principal conclusão, foi observado que a conduta de linfadenectomia do hilo esplênico em pacientes com estas características é uma opção segura e viável para pacientes com câncer gástrico proximal selecionados, proporcionando benefícios de menor impacto cirúrgico sem prejudicar os resultados oncológicos.

Acredito que os resultados são interessantes e reforçam o papel da linfadenectomia adequada para cada estadiamento e localização no câncer gástrico, assim como reforça um amplo papel para a preservação esplênica em tumores altos sem invasão da grande curvatura ou hilo esplênico. Não se sabe ainda o papel da neoadjuvância, cada vez mais utilizada em nosso meio e mesmo o papel da cirurgia robótica que propicia uma linfadenectomia potencialmente mais segura e com menor curva de aprendizado.

Esta abordagem é um exemplo de como podemos equilibrar cuidadosamente intervenções eficazes com a preservação da função orgânica.

Referência: Lin J, Xu B, Zheng H, et al. Laparoscopic Spleen-Preserving Hilar Lymphadenectomy for Advanced Proximal Gastric Cancer Without Greater Curvature Invasion: Five-Year Outcomes From the Fuges-02 Randomized Clinical Trial. JAMA Surg. Published online May 01, 2024. doi:10.1001/jamasurg.2024.1023