Onconews - Medicamentos essenciais e benefício clínico no tratamento do câncer

roitberg ok bxArtigo publicado no ESMO Open, que tem como primeiro autor o brasileiro Felipe Roitberg (foto), aponta caminhos para reduzir a carga do câncer, ilustrando a experiência da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) com a definição de medicamentos essenciais no tratamento do câncer.

Estimativas da Agência Internacional para a Pesquisa em Câncer mostram que o câncer é uma das principais causas de morte prematura (entre 30 e os 69 anos) e uma das principais causas de morte em todo o mundo. Implementar estratégias de controle baseadas em evidências, desde a prevenção primária até intervenções de cuidados paliativos, são elementos fundamentais para o sucesso no controle do câncer.

Nesta análise, Roitberg e colegas destacam que investir no tratamento oncológico é fundamental para acelerar o controle do câncer, com papel central para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030. Como parte dessa iniciativa está o objetivo de reduzir em um terço a mortalidade por câncer até 2030, assim como a meta de alcançar a Cobertura Universal de Saúde.

É nesse contexto que garantir o acesso a medicamentos essenciais seguros, eficazes e de qualidade é indispensável para assegurar a cobertura universal e avançar no controle do câncer.

Desde 1977, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece a Lista Modelo de Medicamentos Essenciais (EML) e fornece orientações para que os países possam priorizar medicamentos que efetivamente sejam capazes de proporcionar o melhor retorno em termos de benefício. Cada país geralmente complementa as recomendações da OMS com informações locais sobre a epidemiologia das doenças e suas necessidades de saúde, para implementar e financiar os programas nacionais de saúde.

A EML tem sido atualizada a cada 2 anos e inclui um número crescente de agentes antineoplásicos. Em 2019, os autores descrevem que a 21ª EML adicionou à lista 12 novos medicamentos contra o câncer, incluindo terapias-alvo e inibidores de checkpoint imune. (ICIs). Em 2021, foram adicionados quatro medicamentos contra o câncer e novas indicações para medicamentos anteriormente adotados, além de terapias para o câncer infantil.

Neste artigo, Roitberg e colegas buscam descrever o processo da ESMO para complementar à Lista Modelo de Medicamentos Essenciais da OMS no tratamento do câncer, com base em análises que incluem a Escala de Magnitude de Benefício Clínico (ESMO-MCBS). A ESMO participou na identificação de potenciais medicamentos contra o câncer para considerar sua inclusão na EML, apresentando propostas específicas nas atualizações de 2019, 2021 e 2023.

O primeiro passo do processo da ESMO para a seleção de medicamentos contra o câncer é a revisão dos dados dos ensaios clínicos. Os autores destacam a importância de uma extensa pesquisa bibliográfica de forma sistemática e abrangente para contextualizar os dados de eficácia clínica e segurança. A seleção dos medicamentos essenciais deve considerar, ainda, as implicações para os sistemas de saúde em termos de custo-efetividade, inclusive em ambientes da vida real e em países de baixa e média renda.

As propostas apresentadas à EML são discutidas em última análise pelo Comité de Peritos da OMS encarregado da seleção de medicamentos essenciais. Esse comitê indicou o ESMO-MCBS como ferramenta para identificar possíveis medicamentos contra o câncer para inclusão na EML. Além disso, Roitberg et al. relatam que o Comité de Peritos em EML da OMS estabeleceu o ganho de 4-6 meses na sobrevida global (SG) como um limiar desejável para tratamento de primeira linha, com base em dados maduros de ensaios clínicos.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.

Referência: Essential cancer medicines: adding feasibility to the magnitude of clinical benefit value chain - F. Roitberg, T. Amaral, N.I. Cherny, G. Curigliano, G. Pentheroudakis, D. Trapani - Open Access. Published: September 04, 2023. DOI:https://doi.org/10.1016/j.esmoop.2023.101617