Onconews - Mesotelioma em países em desenvolvimento e o longo caminho do paciente

gregorio terra 2021Pesquisadores do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), com participação de Paulo Henrique Peitl Gregório (na foto, à esquerda) e Ricardo Mingarini Terra, foram destaque em sessão oral do 15º encontro anual do International Mesothelioma Interest Group (iMig), realizado online de 7 a 9 de maio. A apresentação do ICESP mostrou que cerca de 78% dos pacientes com mesotelioma atendidos na instituição têm doença avançada ao diagnóstico (EC III/IV) e esperam em média mais de um ano entre a manifestação dos sintomas e o início do tratamento.

"É inacreditável, mas a baixa conscientização sobre a doença e o excesso de procedimentos não diagnósticos levam a esse resultado que certamente influencia de forma negativa os desfechos destes pacientes", analisa Ricardo, chefe do Serviço de Cirurgia Torácica Oncológica do ICESP. "Precisamos investir em educação sobre a doença e buscar ativamente casos naqueles expostos ao asbesto", diz o especialista.

Atualmente, mais de 70% dos casos de mesotelioma em todo o mundo são associados à exposição ao amianto.

Nesta análise retrospectiva foram considerados dados de pacientes atendidos no ICESP entre 2009 e 2020, para identificar os intervalos de tempo entre as etapas críticas (sintomas, diagnóstico, encaminhamento para centro especializado e tratamento específico) no manejo do mesotelioma e possíveis entraves ao diagnóstico e assistência.

Durante o período do estudo, foram tratados 70 pacientes (77% homens / 23% mulheres) com média de idade de 60 (± 14,6) anos. Na primeira consulta, 25% deles já apresentavam sintomas compatíveis com ECOG ≥ 2 e apenas 45% relataram alguma exposição conhecida ao amianto durante a vida, evidenciando o desconhecimento quanto aos riscos dessa exposição.

Os resultados obtidos mostram que o tempo médio entre os primeiros sintomas da doença e o encaminhamento para instituição especializada foi de 8,5 meses, com mais 1 mês para biópsia conclusiva. "Além disso, os pacientes esperaram em média mais de 1 ano entre o início dos sintomas e o início do tratamento, como quimioterapia ou cirurgia dirigida", descrevem os autores. " Cerca de 78% dos nossos pacientes apresentavam doença em estágio III ou IV na investigação inicial e em apenas 21% deles a pleurectomia / decorticação ou pleuropneumonectomia puderam ser realizadas.  A sobrevida global para pacientes tratados foi de 13,8 meses", destaca a análise do ICESP apresentada no 15º iMig.

Em conclusão, o estudo brasileiro indica grande desconhecimento sobre os riscos de exposição ao amianto, assim como destaca o longo caminho percorrido pelo paciente em busca de diagnóstico e tratamento. "A falta de familiaridade dos médicos com a doença pode resultar em um longo período de tempo antes que os pacientes sejam tratados adequadamente, o que certamente afeta seu prognóstico".

Referência: MS12.07: Mesothelioma in a Developing Country: The Long Path of Patients Inside Health Care Systems to Proper Diagnosis and Management - Gregorio P, Terra R, P Lima L, Martini B, L Filho R - Sao Paulo Cancer Institute - São Paulo University, São Paulo, Brazil