Estudo que avaliou o benefício clínico de novos medicamentos contra o câncer aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) entre 2003 e 2021 sugere que tanto a agência reguladora quanto a comunidade médica, pacientes e fontes pagadoras devem avaliar cautelosamente essas aprovações. “O benefício de sobrevida global e sobrevida livre de progressão associado a novos medicamentos contra o câncer é marginal”, conclui a análise de Michaeli et al. publicada 3 de agosto no Journal of Clinical Oncology.
Neste estudo, os pesquisadores coletaram evidências de ensaios clínicos do banco de dados Drugs@FDA, que subsidiaram as aprovações da FDA de cada indicação entre 2003 e 2021. São descritas as características do medicamento, da indicação e do ensaio clínico. As razões de risco (HRs) para sobrevida global (SG), sobrevida livre de progressão (SLP) e risco relativo para resposta tumoral foram meta-analisadas.
Os autores descrevem que dos 124 medicamentos aprovados pela FDA, 78 foram aprovados em várias indicações. Os resultados revelam que das 374 indicações, 141 foram aprovadas como terapias combinadas, 255 para tumores sólidos, 121 com biomarcadores e 182 como terapia de primeira linha. A aprovação foi apoiada principalmente por ensaios clínicos randomizados controlados de Fase III (267 [71%]) abertos (267 [71%]) (248 [66%]) com mediana de 331 pacientes inscritos (intervalo interquartil [IQR], 123 -665 pacientes).
Michaeli et al. mostram que em 234 ensaios clínicos randomizados com dados disponíveis, os HRs dos medicamentos foram 0,73 (IC 95%, 0,72 a 0,75; I2 = 29,6%) para SG e 0,57 (IC 95%, 0,54 a 0,60; I2 = 90,6%) para SLP, enquanto a resposta do tumor foi de 1,38 (IC 95%, 1,33 a 1,42; I2 = 80,7%). Em síntese, os novos produtos farmacêuticos aumentaram a sobrevida global do paciente em uma mediana de 2,80 meses (IQR, 1,97-4,60 meses), enquanto o ganho mediano de SLP foi de 3,30 meses (IQR, 1,50-5,58 meses). A análise revela ainda que as indicações iniciais receberam aprovação acelerada com mais frequência, apoiadas por ensaios de braço único para monoterapias de linha avançada, do que extensões de indicação. As aprovações iniciais forneceram SLP mais alta (HR, 0,48 v 0,58; P = 0,002) e resposta do tumor superior (risco relativo, 1,76 v 1,36; P < 0,001).
“Novos medicamentos contra o câncer reduzem substancialmente o risco de morte e progressão do tumor, mas apenas marginalmente aumentam a sobrevida do paciente. A FDA, médicos, pacientes e seguradoras devem avaliar e decidir sobre a aprovação, preço, cobertura e reembolso, considerando a segurança e eficácia de um medicamento em um nível específico de indicação”, concluem os autores.
Entre 124 medicamentos contra o câncer aprovados em 374 indicações, novos tratamentos com dados disponíveis de ensaios clínicos randomizados (234 [63%]) reduziram o risco de morte em média de 27% (mediana: 2,80 meses) e o risco de progressão do tumor em 43% (mediana: 3,30 meses) em comparação com o controle, compara a análise. As aprovações iniciais evitaram mais mortes, progressões tumorais e forneceram uma resposta tumoral maior do que as extensões de indicação, mas foram mais frequentemente apoiadas por ensaios não randomizados.
Referência: Michaeli DT, Michaeli T. Overall Survival, Progression-Free Survival, and Tumor Response Benefit Supporting Initial US Food and Drug Administration Approval and Indication Extension of New Cancer Drugs, 2003-2021. J Clin Oncol. 2022 Aug 3:JCO2200535. doi: 10.1200/JCO.22.00535. Epub ahead of print. PMID: 35921606.