Revisão sistemática e meta-análise publicada no Lancet Oncology examinou globalmente a prevalência do DNA do papilomavírus humano (HPV) e a positividade da p16 INK4a no câncer de pênis e na neoplasia intraepitelial de pênis. Os resultados mostram que uma grande proporção de casos de câncer de pênis e neoplasias intraepiteliais penianas está associada à infecção pelo HPV (predominantemente HPV16). “A vacinação contra o HPV, especialmente o subtipo HPV16 tem o potencial de transformar o panorama do câncer de pênis em nosso país e deveria ser mais amplamente discutida em nosso meio”, destaca o uro-oncologista Gustavo Carvalhal (foto), do Hospital Moinhos de Vento e da PUC-RS, que comenta o estudo para o Onconews.
Os pesquisadores identificaram 73 estudos relevantes na Pubmed, Embase e Cochrane. Desses, 71 foram considerados elegíveis. A prevalência de DNA do HPV no câncer de pênis (52 estudos; n = 4199) foi de 50,8% (IC 95% 44,8-56,7; I 2 = 92 6%, p <0,0001). O HPV foi mais prevalente no carcinoma escamoso (84,0%, IC95% 71-0-93,6; I2 = 48,0%, p=0,097) que no basocelular (75,7%, 70-1,81,0; I2 = 0%, p = 0 52).
O HPV oncogênico predominante no câncer de pênis foi o HPV 16 (68,3%), seguido por HPV 6 (8,1%) e HPV 18 (6,9%). A prevalência de DNA do HPV na neoplasia intraepitelial de pênis (19 estudos; n = 445) foi de 79,8% (IC 95% 69-3-88,6; I2 = 83-2%, p <0,0001). A positividade de p16 INK4a no câncer de pênis (24 estudos; n = 2295) foi de 41,6%, especialmente no carcinoma de células escamosas relacionado ao HPV. Além disso, entre os casos HPV-positivos de câncer de pênis, a positividade de p16 INK4a foi de 79,6% (IC 95% 65,7-90,7; I 2 = 89,9%, p <0,0001), comparada com 18,5% (9,6-29,6; I2 = 89,3%, p <0,0001) nos casos de câncer de pênis HPV negativos.
Na neoplasia intraepitelial de pênis (seis estudos; n = 167), a positividade de p16 INK4a foi de 49,5% (IC95% 18,6-80,7).
Para os autores, esses achados indicam que uma grande proporção de cânceres de pênis e neoplasias intraepiteliais penianas está associada à infecção pelo DNA do HPV, especialmente HPV16, enfatizando os benefícios da vacinação contra HPV em homens e meninos.
“A meta-análise recentemente publicada no Lancet Oncology reafirma o conceito do que o câncer de pênis é uma das chamadas “neoplasias infecciosas”, devido a sua associação importante com a infecção do trato genital pelo vírus do papiloma humano (HPV). Neste estudo, pode-se comprovar a presença do DNA viral do HPV na maioria dos tumores de pênis (50,8%) de um pool de 4.199 tumores de pacientes estudados em 52 estudos publicados. O fato do subtipo HPV16 haver sido o mais detectado reforça a importância de incentivar a vacinação de meninos e meninas na idade pré-puberal para reduzir a incidência dos carcinomas de pênis, doença que é endêmica nas regiões Norte e Nordeste do nosso país”, diz Gustavo Carvalhal.
Carvalhal lembra que vários guidelines internacionais, como o da American Cancer Society, recomendam a vacinação de meninos e de meninas em torno de 11 – 12 anos de idade, podendo iniciar as doses inclusive mais cedo, a partir dos nove anos. “No Brasil, o programa de vacinação contra o HPV foi instituído em 2014 pelo governo com duas doses semestrais da vacina quadrivalente (que inclui o subtipo HPV16) em meninas, e foi estendido em 2017 para meninos. No entanto, a aderência às recomendações para meninos no Brasil foi muito baixa (20,2%), devido tanto à dificuldade de acesso quanto à desinformação sobre a segurança da vacina (Lobão, WM, et al. PLOs One, 2018)”, destaca o especialista. “A vacinação contra o HPV, especialmente o subtipo HPV16 tem o potencial de transformar o panorama do câncer de pênis em nosso país e deveria ser mais amplamente discutida em nosso meio”, conclui.
Referência: Olesen TB, Sand FL, Rasmussen CL, et al. Prevalence of human papillomavirus DNA and p16INK4a in penile cancer and penile intraepithelial neoplasia: a systematic review and meta-analysis. Lancet Oncol 2019; 20:145.