A oncologista Viviane Teixeira L. de Alencar (foto), formada pelo A. C. Camargo Cancer Center, é primeira autora da revisão sistemática e meta-análise que avaliou o potencial benefício dos inibidores de checkpoint imunológico (ICIs) em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) com metástases cerebrais sem tratamento local prévio (unBM). Os resultados foram publicados no Journal of Thoracic Oncology, em artigo que tem o oncologista Vladmir Cordeiro de Lima como autor sênior.
Metástases cerebrais (BM) ocorrem em 40% dos pacientes com câncer de pulmão, e o seu manejo, atualmente, é multimodal, com a associação de terapias locais, como a radioterapia, aos tratamentos sistêmicos. A imunoterapia mudou o cenário terapêutico do câncer de pulmão, porém seu uso de forma isolada para tratamento de pacientes com BM é controverso. A radioterapia, por sua vez, pode promover eventos adversos, como o déficit cognitivo, que podem comprometer a qualidade de vida dos pacientes. Desse modo, a possibilidade de substituí-la por uma única abordagem sistêmica é atraente.
Por meio de pesquisas no Embase, PubMed, Cochrane e outras bases de dados, os pesquisadores identificaram estudos que envolveram pacientes com CPCNP metastático para sistema nervoso central (SNC) tratados com ICIs e que incluíram participantes com metástases cerebrais não submetidas a tratamento local (cirurgia ou radioterapia). Os principais desfechos avaliados foram sobrevida livre de progressão intracraniana (icPFS), taxa de resposta global intracerebral (icORR), taxa de controle de doença intracerebral (icDCR) para unBM e taxa de toxicidade de graus 3/4.
Resultados
Na análise final foram selecionados 12 estudos, com um total de 566 indivíduos, a maioria tratados com ICI em segunda linha. A terapia anti-PD1 demonstrou ser ativa no sistema nervoso central, com um icORR de 16,4% (95% CI 9,8% - 24%; I² = 33,17%) e um icDCR de 45% (95% CI 33,4% - 56,9%; I² = 46,91%), taxas de resposta semelhantes às obtidas fora do SNC nos estudos que testaram ICI em segunda linha. Na meta-análise para icORR (risk ratio [RR] 1,26, 95% CI: 0,57 - 2,79) e icDCR (RR 0,88, 95% CI: 0,55 - 1,43), não foi observada diferença entre os pacientes com metástases cerebrais submetidos à radioterapia antes do início do tratamento com inibidores de checkpoint e aqueles que foram tratados apenas com ICIs.
“Os inibidores de checkpoint imune parecem ser eficazes como agente único inicial no tratamento de metástases cerebrais ativas de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas selecionados, com características de melhor prognóstico, que podem se beneficiar ao postergarmos os efeitos colaterais relacionados à radioterapia”, concluíram os autores.
“Não estamos a afirmar que o uso de ICI isolado deva substituir terapias locais no tratamento de metástases cerebrais de forma irrestrita, mas acreditamos que nosso dado suporta o emprego desta estratégia naqueles pacientes oligo/assintomáticos e com pequeno volume de doença em sistema nervoso central.”, completa Dr. Vladmir Cordeiro de Lima.
Referência: Immunotherapy as Single Treatment for Non-small-cell Lung Cancer Patients with Brain Metastases: a systematic review and meta-analysis – the META-L-BRAIN study. - Viviane T. Loiola de Alencar; Marcos P.G. Camandaroba, MD; Rafaela Pirolli, MD; Camilla A.Z. Fogassa, MD; Vladmir C. Cordeiro de Lima, MD, PhD - May 05, 2021 DOI: https://doi.org/10.1016/j.jtho.2021.04.014