Componentes específicos das células imunes no microambiente tumoral podem afetar a durabilidade da resposta à terapia CAR T cell dirigida ao antígeno BCMA, responsável pelo desenvolvimento das células B. A conclusão é de estudo destacado no programa científico do encontro anual da Sociedade Internacional de Mieloma e publicado simultaneamente na Blood Cancer Discovery, da Associação Americana para Pesquisa do Câncer (AACR).
As células T do receptor de antígeno quimérico (CAR) levam a altas taxas de resposta no mieloma múltiplo, mas a maioria dos pacientes apresenta doença recorrente. "Duas terapias de células CAR T direcionadas a BCMA foram aprovadas pelo FDA, mas para muitos pacientes as respostas não são duráveis e existe o risco de recorrência", disse o autor sênior Madhav Dhodapkar, professor do departamento de hematologia e oncologia clínica da Faculdade de Medicina da Emory University. “Nosso objetivo foi identificar os fatores que determinam a resposta ao tratamento", acrescentou.
Nesta análise, Dhodapkar e colegas combinaram várias abordagens para estudar as células tumorais/imunes no microambiente tumoral (TME) de pacientes com mieloma pré e pós-terapia celular com CAR T direcionada ao antígeno de maturação de células B (BCMA). A menor diversidade de receptores de células T pré-terapia, a presença de clones hiperexpandidos com fenótipo de exaustão e células mieloides BAFF+PD-L1+ na medula foram correlacionadas com sobrevida livre de progressão (SLP) mais curta após terapia com células CAR T. Em contraste, os autores descrevem que a SLP mais longa foi associada a uma proporção maior de células dendríticas CLEC9A+ (DC), células T CD27+TCF1+ com diversos receptores de células T, além do surgimento de células T na medula óssea.
Em síntese, esses dados ilustram uma interação dinâmica, demonstrando que componentes específicos das células imunes e do microambiente tumoral podem afetar a duração da resposta à terapia CAR T cell dirigida ao antígeno BCMA.
“Pacientes com mieloma cujos microambientes imunes tumorais tinham um repertório de células T de linha de base mais diversificado, menos marcadores de exaustão de células imunes e alterações distintas nas populações de células imunes foram mais propensos a ter sobrevida livre de progressão mais longa após o tratamento com CAR T cells direcionadas a BCMA”, concluem os autores.
O autor sênior, Madhav Dhodapkar, enfatizou a importância dos resultados. “Esses achados tem implicações amplas para o campo da terapia com células CAR T, pois enfatizam a importância do microambiente pré-existente do paciente como determinante de respostas duráveis”, sublinhou.
Referência: Dhodapkar KM, Cohen AD, Kaushal A, Garfall AL, Manalo RJ, Carr AR, McCachren SS, Stadtmauer EA, Lacey SF, Melenhorst JJ, June CH, Milone MC, Dhodapkar MV. Changes in Bone Marrow Tumor and Immune Cells Correlate with Durability of Remissions Following BCMA CAR T Therapy in Myeloma. Blood Cancer Discov. 2022 Aug 26:OF1-OF12. doi: 10.1158/2643-3230.BCD-22-0018.