Onconews - Padrões de alto grau no adenocarcinoma pulmonar

pulmao 2020 bxEstudo que avaliou o impacto do descritor pT combinado com a presença de componentes de alto grau em adenocarcinomas pulmonares em estágio inicial revelou que tumores pT1 com componentes de alto grau têm prognóstico semelhante aos tumores pT2a. Os resultados foram publicados na Lung Cancer e demonstram que os padrões micropapilar e sólido confirmam seu efeito prejudicial na sobrevida global e livre de doença.

Nesta análise, Bertoglio et al. argumentam que várias características não anatômicas do câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP), como mutação EGFR/KRAS, contagens mitóticas e perfil genômico, têm forte influência no prognóstico, mas até o momento não são consideradas no sistema de estadiamento TNM. “Em nosso estudo analisamos a presença de padrões de alto grau, nomeadamente micropapilar e sólido, e seu impacto no prognóstico e no possível manejo pós-operatório”, descrevem os autores.

Nove centros torácicos europeus coletaram retrospectivamente dados de pacientes com adenocarcinoma pulmonar pT1-T3N0 submetidos à ressecção radical com dissecção linfonodal entre 2014 e 2017. A ressecção radical foi considerada de acordo com as recomendações de Rami Porta et al. que incluiu margens parenquimatosas livres e ausência de metástases no linfonodo mais alto recuperado. As técnicas aberta, assistida por vídeo (VATS) ou assistida por robótica (RATS) foram usadas de acordo com as preferências dos cirurgiões. As diferenças na sobrevida global (SG) e sobrevida livre de doença (SLD) e possíveis fatores prognósticos associados aos resultados foram avaliados também após a realização de uma correspondência de escore de propensão para comparar tumores com e sem padrões de alto grau.

Entre 607 pacientes, a maioria era do sexo masculino e recebeu lobectomia. Pelo menos um padrão histológico de alto grau foi observado em 230 casos (37,9%), sendo 169 sólidos e 75 de histologia micropapilar.  Os resultados reportados por Bertoglio et al. mostram que pacientes com tumores T1a-b-c sem padrão de alto grau tiveram prognóstico significativamente melhor em relação àqueles com doença T1a-b-c com padrão de alto grau (p = 0,020), embora neste último grupo a SG tenha sido semelhante a pacientes com doença T2a (p = 0,277).

Em pacientes com T1a-b-c sem padrões micropapilar ou sólido, a SLD foi significativamente melhor em comparação com aqueles com padrões de alto grau (p = 0,034) e foi semelhante ao T2a (p = 0,839). A análise multivariada confirma o papel do descritor T de acordo com o padrão de alto grau tanto para SG (p = 0,024; HR 1,285 IC 95% 1,033–1,599) quanto para SLD (p = 0,003; HR 1,196, IC 95% 1,054–1,344, respectivamente). Esses resultados foram confirmados após a análise de correspondência do escore de propensão.

“Os adenocarcinomas pulmonares pT1 com componente de alto grau têm prognóstico semelhante aos tumores pT2a”, concluem os autores. "De acordo com esses dados, acreditamos que os pacientes acometidos por adenocarcinoma pulmonar T1a-b-c com componente histológico de alto grau devem ser considerados para um manejo perioperatório mais cuidadoso, incluindo ressecções anatômicas e possível terapia adjuvante e/ou vigilância mais próxima", propõem. 

Referência: Bertoglio, P., Aprile, V., Ventura, L. et al. Impact of High-Grade Patterns in Early-Stage Lung Adenocarcinoma: A Multicentric Analysis. Lung (2022). https://doi.org/10.1007/s00408-022-00561-y