Em artigo na Nature Medicine, a pesquisadora brasileira Juliane Fonseca de Oliveira (foto), matemática do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (CIDACS), em Salvador, Bahia, descreve o esforço envolvido na construção de modelo epidemiológico para analisar as diversas populações da Coorte de 100 Milhões de Brasileiros. A coorte abrange aproximadamente metade da população do Brasil, uma das maiores coortes populacionais do mundo, e oferece oportunidades para explorar várias condições que podem moldar fatores de risco para doenças específicas, inclusive o câncer.
“A perspectiva de desempenhar um papel na erradicação de doenças infecciosas parecia assustadora e estimulante. No entanto, o impacto potencial inegável do desenvolvimento de ferramentas matemáticas para esse propósito me motivou”, diz ela, ao descrever sua reação diante do convite para integrar um grupo de pesquisa dedicado a desenvolver modelos matemáticos aplicados à epidemiologia.
Ela aceitou o convite e ilustra no artigo na Nature Medicine o valor de modelos matemáticos aplicados à saúde. “Com base em suposições epidemiológicas e clínicas, esses modelos fornecem insights inestimáveis sobre o comportamento quantitativo e qualitativo da disseminação de doenças”, exemplifica.
Apesar do gigantesco potencial da modelagem matemática, Juliane lembra da importância de superar barreiras para aumentar a precisão e as capacidades preditivas. “Ao incorporar uma compreensão abrangente da heterogeneidade populacional, esses modelos podem fornecer previsões mais precisas e intervenções direcionadas confiáveis, levando, em última análise, à prevenção e eliminação de doenças”, analisa.
A Coorte de 100 Milhões de Brasileiros construída pelo Cidacs/Fiocruz Bahia compreende indivíduos registrados no CadUnico, o banco de dados do Cadastro Único para Programas Sociais. A partir dessa valiosa base de dados - que em 2018 somava mais de 131 milhões de pessoas registradas - estudos já evidenciaram, por exemplo, que a mortalidade por câncer de colo de útero no Brasil é 80% maior entre indígenas, enquanto mulheres pretas morrem 10% mais de câncer de mama (2).
Referências:
de Oliveira, J.F. Mathematical modelling as a tool for precision health equity. Nat Med 30, 1802–1803 (2024). https://doi.org/10.1038/s41591-024-03062-y
(2) Góes EF, Guimarães JMN, Almeida MDCC, Gabrielli L, Katikireddi SV, Campos AC, Matos SMA, Patrão AL, Oliveira Costa AC, Quaresma M, Leyland AH, Barreto ML, Dos-Santos-Silva I, Aquino EML. The intersection of race/ethnicity and socioeconomic status: inequalities in breast and cervical cancer mortality in 20,665,005 adult women from the 100 million Brazilian Cohort. Ethn Health. 2024 Jan;29(1):46-61. doi: 10.1080/13557858.2023.2245183. Epub 2023 Aug 29. PMID: 37642313.