Onconews - Modificação da dose de QT paliativa em idosos com câncer

caponero 2019 bxEstudo que avaliou a associação entre a modificação do tratamento primário e a tolerabilidade em idosos com câncer avançado mostrou que a modificação do tratamento foi associada à melhora da tolerabilidade dos regimes quimioterápicos, achado que pode contribuir para otimizar a dosagem do tratamento do câncer nessa população de pacientes. “Instrumentos para nos ajudar a encontrar o equilíbrio ideal são muito bem-vindos para guiar as decisões terapêuticas”, diz o oncologista Ricardo Caponero (foto), que comenta os resultados.

Em artigo publicado no JAMA Netw Open, Mohamed MR et al. argumentam que idosos com câncer avançado têm menos probabilidade de tolerar o tratamento com quimioterapia citotóxica em comparação com pacientes mais jovens, como resultado das condições relacionadas com o envelhecimento. Consequentemente, há situações em que os oncologistas optam por empregar modificações no tratamento (desvio do padrão de atendimento) durante o primeiro ciclo de quimioterapia.

Este estudo de coorte foi uma análise secundária do ensaio GAP70+ (Intervenção de Avaliação Geriátrica para Reduzir a Toxicidade em Pacientes Idosos com Câncer Avançado), realizado entre julho de 2014 e março de 2019. O ensaio GAP70+ incluiu pacientes com 70 anos de idade. anos ou mais com câncer avançado (ou seja, incurável), que tinham 1 ou mais deficiências nos domínios de avaliação geriátrica e planejavam iniciar um novo regime de quimioterapia paliativa. A análise dos dados foi realizada em novembro de 2022.

Os pesquisadores consideraram regimes de quimioterapia padrão versus modificação do tratamento primário, definida como qualquer alteração nas diretrizes da National Comprehensive Cancer Network ou de ensaios clínicos publicados (por exemplo, redução da dose primária, mudança de cronograma).

Os resultados de tolerabilidade foram avaliados dentro de 3 meses de tratamento e consideraram (1) qualquer efeito tóxico de grau 3 a 5, de acordo com os Critérios de Terminologia Comum para Eventos Adversos; (2) declínio funcional relatado pelo paciente, usando pontuações da escala de desempenho das atividades da vida diária e (3) resultado adverso combinado (que combinou efeitos tóxicos, declínio funcional e sobrevida global em 6 meses).

A análise compreendeu 609 pacientes com idade média de 77,2 anos, majoritariamente (54,7%) homens. Os tipos de câncer mais comuns foram câncer gastrointestinal (228 [37,4%]) e câncer de pulmão (174 [28,6%]). Na análise multivariada, a modificação primária do tratamento foi associada a um risco reduzido de efeitos tóxicos de grau 3 a 5 (risco relativo [RR], 0,85 [IC 95%, 0,77-0,94]) e declínio funcional (RR, 0,80 [IC 95%, 0,67-0,95]). Os pacientes que receberam modificação primária do tratamento tiveram risco 32,0% menor de ter um resultado adverso composto (razão de 0,68 [IC 95%, 0,48-0,97]).

“Neste estudo de coorte, a modificação primária do tratamento foi associada à melhora da tolerabilidade dos regimes quimioterápicos entre idosos com câncer avançado e condições relacionadas ao envelhecimento”, concluem os autores, destacando que esses achados podem ajudar a otimizar a dosagem do tratamento do câncer nessa população de pacientes.

“A grande dificuldade no tratamento de pacientes idosos é não deixar de oferecer tratamentos potencialmente curativos e não oferecer tratamentos tóxicos em demasia, que deteriorem a qualidade de vida”, diz Caponero. “Em tratamentos considerados paliativos, a questão principal é não reduzir tanto a intensidade do tratamento que o tornem de "faz de conta", uma intensidade que não produz eficácia, mas que mesmo assim pode ser tóxica e deteriorar a qualidade de vida”, acrescenta o oncologista.

Referência: Mohamed MR, Rich DQ, Seplaki C, Lund JL, Flannery M, Culakova E, Magnuson A, Wells M, Tylock R, Mohile SG. Primary Treatment Modification and Treatment Tolerability Among Older Chemotherapy Recipients With Advanced Cancer. JAMA Netw Open. 2024 Feb 5;7(2):e2356106. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2023.56106. PMID: 38358742; PMCID: PMC10870189