Onconews - Mortalidade por câncer aumenta no Brasil em municípios de alta renda e supera mortes por doenças cardiovasculares

Doenças cardiovasculares (DCV) e câncer são a primeira e a segunda principais causas de morte no Brasil e no mundo. Estudo de Beatriz Rache (foto) e colegas publicado no Lancet Regional Health Americas fornece uma análise nacional de 2000 a 2019, revelando que a mortalidade por câncer já é maior que a mortalidade por DCV em 13% dos municípios brasileiros, principalmente em municípios de alta renda. “Nossos resultados podem fornecer informações importantes para formuladores de políticas e profissionais de saúde pública no Brasil”, destacam os autores.

Muitos países de alta e média renda já observaram uma transição epidemiológica em andamento, na qual o câncer supera as DCV. Nesta análise, os pesquisadores utilizaram dados de 5.570 municípios brasileiros, usando o Sistema de Informações sobre Mortalidade, e classificaram as causas de morte usando códigos CID-10. As taxas de mortalidade por DCV e câncer padronizadas por idade foram calculadas anualmente entre 2000 e 2019. As taxas de mortalidade (MRRs = taxas de DCV divididas pelas taxas de câncer) descreveram a predominância da mortalidade por câncer ou DCV entre municípios e estados. Os mapas coropléticos exibiram MRRs específicas do estado e a transição na causa predominante de morte ao longo do tempo.

Os resultados mostram que as taxas de mortalidade por DCV diminuíram em 25 dos 27 estados no período de 2000 a 2019, enquanto a mortalidade por câncer aumentou em 15 estados, indicando uma mudança em direção à predominância do câncer. Enquanto em 2000 a mortalidade por câncer era menor do que a DCV em todos os estados e só ultrapassava esta última em 7% dos municípios, em 2019 a diferença diminuiu consideravelmente, com 13% dos municípios apresentando maiores taxas de mortalidade por câncer do que taxas de mortalidade por DCV. Além disso, maior renda familiar correlacionou-se com maior mortalidade por câncer do que por DCV.

“Uma transição epidemiológica em andamento, na qual a mortalidade por câncer supera a mortalidade por DCV, está ocorrendo no Brasil, particularmente em municípios com maiores rendas familiares”, concluem os autores.

Além de Beatriz Rache, atualmente pesquisadora da Universidade da California, o estudo tem participação de Rudi Rocha (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde e Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo), Luciana Alves de Medeiros (Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia, MG), Letícia Martins Okada (Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia, MG), Gerson Ferrari (Universidade de Santiago de Chile -USACH),  Hongmei Zeng (Faculdade de Saúde Pública,  Harvard Chan School), Alessandro Bigoni (Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, SP, e Harvard Healthcare Systems Innovation Lab), Maria Paula Curado (A.C. Camargo Cancer Center, SP), Catarina M. Azeredo (Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia, MG) e Leandro F.M. Rezende (Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina, UNIFESP).

A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e está disponível em acesso aberto.

Referência:

Transition towards cancer mortality predominance over cardiovascular disease mortality in Brazil, 2000–2019: a population-based study. Rache, Beatriz et al. The Lancet Regional Health – Americas, Volume 39, 100904