Artigo de M Eklund e colegas publicado na New England Journal of Medicine discute a biópsia orientada por ressonância magnética (MRI) no contexto do rastreamento do câncer de próstata1. Os resultados mostraram que a estratégia não foi inferior à biópsia padrão e resultou em menos detecção de câncer sem significância clínica. "O estudo reforça o conhecimento atual de que a biópsia randômica tem acurácia inferior em relação a biópsias guiadas por fusão de imagens de Ultrassonografia e Ressonância Multiparamétrica de Próstata", destaca Oliver Rojas Claros (foto), urologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Este ensaio de base populacional buscou avaliar a não-inferioridade da ressonância magnética com biópsia guiada por MRI em homens com resultados de ressonância magnética sugestivos de câncer de próstata. Homens de 50 a 74 anos de idade da população em geral foram convidados por correio a participar; os participantes com níveis de antígeno específico da próstata (PSA) ≥ 3 ng/mililitro ou mais foram randomizados (2: 3) para se submeter a uma biópsia padrão (grupo de biópsia padrão) ou para se submeter à ressonância magnética, com biópsia guiada por MRI. O endpoint primário foi a proporção de homens na população com intenção de tratar com diagnosticados com câncer clinicamente significativo (Gleason ≥7). O principal endpoint secundário foi a detecção de casos de câncer clinicamente insignificantes (Gleason 6).
Resultados
Dos 12.750 homens inscritos, 1.532 tinham níveis de PSA de 3 ng por mililitro ou mais, randomizados para o grupo de biópsia padrão (N= 603) ou para o grupo experimental (N=929). Na análise de intenção de tratar, o câncer clinicamente significativo foi diagnosticado em 192 homens (21%) no grupo de biópsia experimental, em comparação com 106 homens (18%) no grupo de biópsia padrão (P <0,001 para não inferioridade). A porcentagem de cânceres clinicamente insignificantes foi menor no grupo de biópsia experimental do que no grupo de biópsia padrão (4% [41 participantes] vs. 12% [73 participantes]; diferença, −8 pontos percentuais; IC de 95%, −11 a - 5).
“A ressonância magnética com biópsia direcionada e biópsia padrão em homens com resultados de ressonância magnética sugestivos de câncer de próstata não foi inferior à biópsia padrão para a detecção de câncer de próstata clinicamente significativo em um teste de rastreamento populacional por convite e resultou em menos detecção de câncer clinicamente insignificante”, concluem os autores.
O estudo foi realizado pelo consorcio sueco STHLM3-MRI e está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT03377881.
Método de diagnóstico mais preciso pode auxiliar no direcionamento de recursos
Por Oliver Rojas Claros, , urologista do Hospital Israelita Albert Einstein e do grupo de oncologia urológica do Hospital Municipal Vila Santa Catarina, e fellowship clínico em Cirurgia Robótica e Terapia Focal no Institute Mutualiste Montsouris, Paris- França
Este artigo de M Eklund e colegas publicado na New England Journal of Medicine , reforça o conhecimento atual de que a biópsia randômica tem acurácia inferior em relação a biópsias guiadas por fusão de imagens de USG e Ressonância Multiparamétrica de Próstata (BF). Estudos recentes sugerem que biópsias por fusão melhoram as taxas de detecção de câncer de próstata (CaP) clinicamente significante em comparação com as biópsias randômicas convencionais2,3.
A abordagem diagnóstica clássica do CaP no Brasil consiste em biópsias randômicas guiadas por ultrassonografia (USG), dosagem de PSA e exame digital de próstata4. No entanto, a abordagem diagnóstica clássica com biópsias randômicas usa orientação ultrassonográfica convencional com baixa sensibilidade e especificidade, levando ao subdiagnóstico de CaP clinicamente significante e ao superdiagnóstico de CaP clinicamente insignificante.
Não é incomum a existência de incongruências entre os dados da biópsia, exame digital da próstata e os valores de PSA no atendimento inicial de pacientes submetidos a biópsias randômicas, principalmente no serviço público. A opção para a estratificação de risco, neste contexto , pode ser a realização de nova biópsia por fusão (BF) ou a revisão de lâminas da biópsia inicial.
A alteração na estratificação de risco de CaP por uma biópsia mais acurada pode levar a uma mudança na escolha do tratamento. Visto que após a estratificação de risco a indicação do tratamento pode variar desde vigilância ativa até tratamento radical invasivo como a Radioterapia e a prostatectomia radical com linfadenectomia pélvica5-7. A utilização de método de diagnóstico mais preciso como a biópsia guiada por fusão de imagens de USG e Ressonância Multiparamétrica de Próstata poderá auxiliar o setor privado e o Sistema único de Saúde (SUS) a direcionar recursos para modalidades de tratamento mais efetivas.
Referências:
1 - MRI-Targeted or Standard Biopsy in Prostate Cancer Screening - Martin Eklund, Ph.D., Fredrik Jäderling, M.D., Ph.D., Andrea Discacciati, Ph.D., Martin Bergman, M.D., Magnus Annerstedt, M.D., Markus Aly, M.D., Ph.D., Axel Glaessgen, M.D., Ph.D., Stefan Carlsson, M.D., Ph.D., Henrik Grönberg, M.D., Ph.D., and Tobias Nordström, M.D., Ph.D., for the STHLM3 consortium* - July 9, 2021 - DOI: 10.1056/NEJMoa2100852
2 - Kam J, Yuminaga Y, Kim R et al: Does magnetic resonance imaging-guided biopsy improve prostate cancer detection? A comparison of systematic, cognitive fusion and ultrasound fusion prostate biopsy. Prostate Int 2018; 6: 88.
3 - Natarajan S, Marks LS, Margolis D et al: Clinical application of a 3D ultrasound-guided prostate biopsy system. Urol Oncol 2011; 29: 334
4 - Nota oficial da Sociedade Brasileira de Urologia–Rastreamento de câncer de próstata 2018.
5 - Kupelian PA, Willoughby TR, Reddy CA et al. Hypofractionated intensity-modulated radiotherapy (70 Gy at 2.5 Gy per fraction) for localized prostate cancer: Cleveland Clinic experience. Int. J. Radiat. Oncol. Biol. Phys. 2007; 68: 1424–30.
6 - Tooher R, Swindle P, Woo H et al. Laparoscopic radical prostatectomy for localized prostate cancer: a systematic review of comparative studies. J. Urol. 2006; 175: 2011–1
7 - van As NJ and Parker CC: Active surveillance with selective radical treatment for localized prostate cancer. Cancer J 2007; 13: 289.