Estudo conduzido no Hospital de Amor (Hospital de Câncer de Barretos) traz novos dados sobre a frequência de mutações EGFR e KRAS em uma grande série brasileira de adenocarcinomas pulmonares. Os achados foram publicados 1º de março na Scientific Reports. “Avaliamos o impacto clinicopatológico e étnico das mutações EGFR e KRAS na maior série de adenocarcinomas pulmonares brasileiros, com achados que podem apoiar futuras estratégias clínicas para pacientes brasileiros com câncer de pulmão“, dizem os autores.
Os resultados da análise mostram que a frequência de mutações de EGFR foi identificada em 101 pacientes ( 22,7% ) e de KRAS em 90 pacientes ( 20,4%). A proporção média de ancestralidade foi de 73,1% para Europeus (EUR), 13,1% para Africanos (AFR), 6,5% Americanos (AME) e 7,3% para Asiáticos (ASN). Entre os pacientes EGFR positivos, 12 apresentaram mutações de resistência, especialmente a T 790M.
O artigo de Letícia Ferro Leal e colegas descreve que mutações EGFR foram independentemente associadas com nunca-fumantes, alta ascendência asiática e melhor status de desempenho. “Mutações em KRAS foram independentemente associadas à exposição ao tabaco e à ascendência não asiática. Mutações no EGFR-exon 20 foram associadas a pior prognóstico. O modelo de regressão de Cox indicou resultado pior para pacientes com idade > 61 anos ao diagnóstico, subtipo histológico sólido, perda de peso (> 10%), pior status de desempenho (≥2) e presença de mutações em KRAS e EGFR em pacientes não tratados com TKis”, registram os autores.
O câncer de pulmão é o câncer mais letal no mundo e no Brasil, historicamente com taxas de sobrevida em 5 anos inferiores a 20%. Na última década, o tratamento do câncer de pulmão não-pequenas células (CPNPC) teve avanços importantes no cenário da doença avançada/metastática, refletindo a maior compreensão do comportamento biológico dos tumores.
O estudo de Barretos lembra que o advento de testes moleculares para determinar mutações acionáveis e a incorporação de terapias-alvo e inibidores de checkpoint imune ao arsenal terapêutico começou a reformular o cenário de tratamento. “O gene EGFR emergiu como um alvo terapêutico crítico e o status de mutações do EGFR tem orientado com sucesso o manejo clínico. A presença de mutações ativadoras do EGFR, principalmente nos éxons 18, 19, 20 e 21, que correspondem ao domínio da tirosina-quinase, sensibiliza os adenocarcinomas pulmonares ao tratamento com inibidores de tirosina-quinase anti-EGFR (TKis), como erlotinibe, gefitinibe, afatinibe, dacomitinibe e osimertinibe”, contextualiza o estudo de Barretos.
O KRAS é outro importante oncogene no câncer de pulmão. “Mutações no Hotspot KRAS, nos códons 12/13 são descritas em aproximadamente 20% dos adenocarcinomas pulmonares, conhecidas por estarem associadas ao consumo de tabaco”, descrevem os autores. “O status mutacional do KRAS foi descrito como associado ao microambiente imune, o que implica considerar o teste molecular para esse gene para estratificar pacientes voltados à imunoterapia”, acrescentam.
Em conjunto, o teste molecular de mutações do EGFR e do KRAS para pacientes com câncer de pulmão oferece vantagens para orientar a terapia personalizada, concorrendo para refinar a seleção de pacientes. “Este é o maior estudo a avaliar o status de mutação do EGFR e KRAS na população brasileira de adenocarcinomas pulmonares. A mutação EGFR foi associada ao histórico de ascendência asiática, confirmando as disparidades geográficas conhecidas. Em nossa série, a mutação do KRAS foi um fator prognóstico independente”, concluem os autores.
O estudo está disponível em acesso aberto.
Referência: Leal, L. F., de Paula, F. E., De Marchi, P., de Souza Viana, L., Pinto, G. D. J., Carlos, C. D., … Reis, R. M. (2019). Mutational profile of Brazilian lung adenocarcinoma unveils association of EGFR mutations with high Asian ancestry and independent prognostic role of KRAS mutations. Scientific Reports, 9(1). doi:10.1038/s41598-019-39965-x