Estudo multicêntrico liderado pelo oncologista Tomás Reinert (foto) avaliou a prevalência de mutações no gene ESR1 (ESR1m) em amostras de tumores de pacientes com câncer de mama receptor de estrogênio positivo (ER+) resistente à terapia neoadjuvante com inibidores da aromatase. Os resultados foram publicados no periódico Frontiers in Oncology1.
Mutações no gene ESR1 são importantes mecanismos de resistência à terapia endócrina no câncer de mama metastático ER+ e foram estudadas como um potencial alvo terapêutico, bem como um biomarcador preditivo e prognóstico. No entanto, o papel da ESR1m como um possível mecanismo de resistência endócrina primária, e sua ocorrência em tumores resistentes à terapia endócrina administrada como terapia neoadjuvante na doença em estágio inicial não foi adequadamente estudado.
No estudo, os pesquisadores acompanharam uma coorte prospectiva de pacientes com câncer de mama ER-positivo, HER2-negativo, estágios II e III, tratadas com terapia endócrina neoadjuvante (NET). Amostras de tumores de pacientes com padrão de resistência endócrina primária [definida como escore do Índice Prognóstico Endócrino Pré-operatório (PEPI) ≥4] foram identificadas e analisadas quanto à presença de ESR1m.
Resultados
Cento e vinte e sete pacientes foram incluídos na coorte, dos quais 100 (79%) haviam completado a terapia neuroendócrina adjuvante e foram submetidas à cirurgia. Entre essas pacientes, o escore de PEPI variou de 0 a 3 em 70% (70/100), enquanto 30% (30/100) tiveram um escore do PEPI de 4 ou mais. Vinte e três desses pacientes foram incluídos na análise. As mutações de ESR1 não foram identificadas em nenhum dos 23 pacientes com câncer de mama ER+ estágio inicial resistente à terapia neuroendócrina adjuvante.
“Estes resultados foram comparados com a prevalência de ESR1m em pacientes brasileiras com câncer de mama metastático. Em dados reportados em uma publicação2 de 2019, o mesmo grupo de pesquisadores identificou uma taxa de 14% de ESR1m em tumores metastáticos que haviam progredido a pelo menos uma linha de terapia endócrina. Nesta coorte de doença avançada, também foi encontrada uma associação significativa entre ESR1m e presença de metástases viscerais”, explica Reinert.
Segundo os autores, o estudo sugere que as mutações da ESR1 não evoluem rapidamente e não representam um mecanismo comum de resistência endócrina primária no cenário neoadjuvante. “A ESR1m deve ser considerada um mecanismo de resistência endócrina adquirida no contexto de doença avançada. Mais pesquisas devem ser realizadas para identificar fatores associados à resistência intrínseca à terapia endócrina”, concluíram.
Referência: 1 - ESR1 Mutations Are Not a Common Mechanism of Endocrine Resistance in Patients With Estrogen Receptor–Positive Breast Cancer Treated With Neoadjuvant Aromatase Inhibitor Therapy - Tomás Reinert et al – Front. Oncol., 03 April 2020 - https://doi.org/10.3389/fonc.2020.00342
2 - Association of ESR1 Mutations and Visceral Metastasis in Patients with Estrogen Receptor-Positive Advanced Breast Cancer from Brazil. - Tomás Reinert et al – J Oncol. 2019 Aug 14;2019:1947215. doi: 10.1155/2019/1947215.