O câncer pancreático associado à neoplasia mucinosa papilar intraductal (IPMN) está se tornando um subtipo comum de câncer pancreático encontrado em espécimes ressecados. Pedro Luiz Serrano Uson Junior (foto) e colegas avaliaram o prognóstico do adenocarcinoma pancreático associado à IPMN, com achados que não mostram diferença estatística na sobrevida global entre adenocarcinoma pancreático ressecado e adenocarcinoma pancreático associado a IPMN.
Neste estudo, os pesquisadores analisaram pacientes com neoplasias pancreáticas ressecadas e IPMN tratados no Hospital Israelita Albert Einstein, de janeiro de 2016 a dezembro de 2020. A sobrevida global (SG) foi estimada usando o método de Kaplan-Meier, e as correlações entre as variáveis de interesse e a SG específica da doença foram avaliadas por análise multivariada.
Os resultados foram relatados no Journal of Gastrointestinal Oncology (JGO) e revelam que de 187 pacientes submetidos à ressecção de adenocarcinoma pancreático ou IPMN, 125 (67%) tinham adenocarcinoma pancreático, 33 (18%) tinham adenocarcinoma pancreático associado a IPMN e 29 (16%) tinham IPMN.
A análise mostra que a neoplasia mucinosa papilar intraductal ressecada foi associado à SG de longo prazo para a maioria dos pacientes. Os autores descrevem que SG semelhante foi identificada em pacientes com câncer pancreático ressecado inicial associado ou não a IPMN. Nenhuma diferença estatística na SG mediana foi identificada entre adenocarcinoma pancreático ressecado e adenocarcinoma pancreático associado a IPMN (48 vs. 44 meses, P=0,44). O tamanho do tumor [razão de risco (HR), 1,33], estágio III ressecado (HR, 1,31), invasão perineural (HR, 1,58), invasão linfovascular (HR, 1,44), linfonodos positivos (HR, 1,34) e tratamento neoadjuvante (HR, 1,70) foram associados a piores resultados.
“ Nossos achados confirmam que o câncer pancreático ressecado tem um prognóstico ruim e o adenocarcinoma pancreático associado a IPMN tem o mesmo prognóstico que um adenocarcinoma pancreático convencional. Mais da metade dos casos de adenocarcinoma associado a IPMN já tinham linfonodos positivos”, concluem os autores, sugerindo que o impacto do tratamento neoadjuvante neste grupo de pacientes deve ser investigado em coortes maiores.
Em 2020, foram estimados 495.000 novos casos de câncer de pâncreas no mundo e o adenocarcinoma pancreático foi a sétima principal causa de mortalidade por câncer no mesmo período. No Brasil, foram estimados em 2023 cerca de 11.000 novos casos. Uson Júnior e colegas sublinham que a maioria dos pacientes é diagnosticada em estágios avançados e a sobrevida global mediana é inferior a um ano.
A publicação no JGO descreve, ainda, que a neoplasia mucinosa papilar intraductal é um tipo de neoplasia que pode surgir dos ductos pancreáticos, pode produzir muco e lesões principalmente benignas, mas pode progredir e ser um risco para câncer pancreático. O risco geral de progressão para carcinoma é entre 3% e 15%, sendo maior entre os anos após o diagnóstico.
Referência:
Uson Junior PLS, Nagy ALS, Dias IWR, de Rezende MB, Pestana R, Bugano D, Tustumi F, Namur GN, Kruger JAP, Goldenberg A, Araujo SEA, Kim NJ, Klajner S, Borad M, Moura F. Concomitant or antecedent intraductal papillary mucinous neoplasm is not a prognostic factor in resected pancreatic cancer. J Gastrointest Oncol. 2024 Aug 31;15(4):1820-1826. doi: 10.21037/jgo-24-157. Epub 2024 Jul 29. PMID: 39279955; PMCID: PMC11399881.