Onconews - Nova abordagem pode melhorar o diagnóstico de câncer de ovário

NotasAntigas_Sergio_Nota4_Ov__rio.jpgOs resultados preliminares de um estudo se mostraram promissores ao sugerir que um novo algoritmo pode ser uma forma valiosa de avaliar o risco da doença, geralmente diagnosticada tardiamente. O estudo conduzido por pesquisadores da University College London, no Reino Unido, não identificou um novo exame, mas propôs um refinamento dos métodos diagnósticos existentes, com a interpretação de mudanças nos níveis de CA125, prevendo com mais precisão o risco individual para o câncer de ovário.

"O novo algoritmo proposto neste robusto estudo inglês, considerando a evolução do CA125 em bases individuais e não o seu valor absoluto, traz a primeira perspectiva de aumentar a detecção em câncer de ovário com teste de rastreamento", afirma Angélica Nogueira, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (GBTG). No entanto, a especialista acrescenta que o amadurecimento dos dados deste estudo é essencial para esclarecer se o aumento da detcção ocorre em um estágio inicial o suficente para ter impacto na sobrevida das pacientes, o que justificaria sua adoção para rastreamento populacional.
 
O nível da proteína CA125 no sangue é reconhecido como um marcador para o câncer de ovário. O método convencional de rastreio do câncer de ovário utiliza um "cut-off" fixo (mais de 35U/ml) do CA125. No entanto, algumas mulheres podem ter níveis mais elevados de CA125 em seu sangue do que este ponto de corte e não ter câncer de ovário, enquanto outras mulheres podem ter níveis mais baixos da proteína e ainda assim desenvolver a doença. Além disso, algumas condições também causam um nível elevado de CA125, incluindo a menstruação, endometriose, doença hepática, doença inflamatória pélvica, miomas e gravidez.

"O CA125 como um marcador biológico para o câncer de ovário tem sido questionado. Nossos resultados indicam que o CA125 pode ser um biomarcador valioso quando usado da maneira correta, uma ferramenta de triagem precisa e sensível.O que é normal para uma mulher pode não ser para outra. É a mudança nos níveis desta proteína que é importante", afirma Ian Jacobs, atual presidente da Universidade de New South Wales, Austrália, que concebeu o estudo.

O estudo desenvolveu um novo algoritmo chamado algoritmo do risco de câncer de ovário (do inglês, ROCA), que divide o risco de câncer de acordo com os níveis de CA125 medidos a cada ano. O novo método detectou o câncer em 86% das mulheres com câncer de ovário epitelial invasivo, enquanto o teste convencional utilizado nos ensaios anteriores ou na prática clínica teriam identificado menos da metade dessas mulheres (41% ou 48%, respectivamente). A especificidade foi ainda melhor na proporção de mulheres sem câncer de ovário. O algoritmo identificou corretamente 99,8% como fora de risco, o que significa que essas mulheres não sofreriam uma investigação mais aprofundada e procedimentos desnecessários, como a cirurgia.
 
Os resultados vêm da análise de um braço do UK Collaborative Trial of Ovarian Cancer Screening (UKCTOCS), o maior estudo de rastreio do câncer de ovário do mundo, liderado pela UCL e financiado pelo Medical Research Council, Cancer Research UK, Department of Health e pelo The Eve Appeal. O estudo envolveu 202.638 mulheres na pós-menopausa com mais de 50 anos de idade, recrutadas através de treze centros na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, entre 2001 e 2005.
 
Elas foram divididas aleatoriamente em dois grupos - grupo controle (101.359 mulheres) que não recebeu nenhum rastreio; e grupo de rastreio, no qual as mulheres foram rastreadas através de exame de sangue para CA125 (50.640) e ultrassom transvaginal dos ovários (50.639). Em 46.237 mulheres, os pesquisadores testaram o sangue uma vez por ano para níveis de CA125, e usaram o algoritmo para interpretar o seu risco de câncer de ovário com base na idade, níveis originais de CA125 e alterações do nível da proteína.
 
O principal resultado (se menos mulheres morreram de câncer de ovário no grupo de rastreio em relação ao grupo controle) será analisado até o final do ano, bem como os resultados do braço do ultrassom transvaginal.
 
“É preciso esperar a análise final do estudo para saber se os cânceres foram rastreados precoce o suficiente para salvar vidas”, afirma Usha Menon, co-investigador principal do estudo da UCL. Ele acrescenta que mais provas são necessárias antes que os médicos começam a usar esta ferramenta em suas práticas. 

Câncer de ovário

Apesar de pouco frequente, o câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa no Brasil em 2014 era de5.680 novos casos, com um risco estimado de 5,58 casos a cada 100 mil mulheres. Por ser particularmente difícil detectar a doença durante seus estágios iniciais, cerca de 3/4 dos casos de câncer apresentam-se em estágio avançado no momento do diagnóstico. A maioria dos tumores de ovário são carcinomas epiteliais (câncer que se inicia nas células da superfície do órgão), o mais comum, ou tumor maligno de células germinativas.
 
A história familiar de câncer de mama ou de ovário é o fator de risco mais importante, especialmente em mulheres portadoras de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. A síndrome de Lynch (câncer de cólon hereditário não polipoide) também está relacionada com a neoplasia, além de terapia de reposição hormonal pós-menopausa, tabagismo, obesidade e nuliparidade. Outra questão importante é a presença de endometriose, que pode contribuir para o desenvolvimento desse câncer.
 
A prevenção é limitada pelo pouco conhecimento de suas causas, além da falta de disponibilidade de técnicas para o diagnóstico, geralmente realizados de forma ocasional ou quando o tumor já apresenta sintomas que indicam uma doença mais avançada.
 
Referência: A risk algorithm using serial biomarker measurements doubles the number of screen-detected cancers compared to a single threshold rule in the United Kingdom Collaborative Trial of Ovarian Cancer Screening (UKCTOCS), Usha Menon, et al., Journal of Clinical Oncology, published online 4 May 2015.