O II Simpósio Internacional de Tratamento Multidisciplinar de Uro-Oncologia, realizado pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) nos dias 6 e 7 de março, mostrou inovações no tratamento do câncer de próstata, bexiga, testículos e rim. Oren Smaletz (foto), oncologista do HIAE, comentou em vídeo um dos destaques.
O simpósio contou com a participação de importantes nomes da uro-oncologia nacional, como Fernando Cotait Maluf, diretor do Serviço de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM); o urologista Antônio Carlos Lima Pompeo, Professor da disciplina de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC; Daniel Herchenhorn, oncologista clínico do Centro de Oncologia D'Or; Álvaro Sarkis, urologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; e Rafael Kaliks, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).
Entre os convidados internacionais, nomes como Surena Matin, diretor médico na Minimally Invasive New Technology in Oncologic Surgery (MINTOS) e professor de investigação de câncer de bexiga e rim na Monteleone Family Foundation; Luis Souhami, do departamento de oncologia e da divisão de radio-oncologia da McGill University, em Montreal, Canadá; Brian Chapin, do departamento de urologia do M.D. Anderson Cancer Center; Darren Feldman, do Memorial SloanKettering Cancer Center e do Weill Cornell Medical College; Igor Frank, vice-presidente do departamento de urologia da Mayo Clinic; e Nicholas Vogelzang, vice-presidente do comitê executivo médico do SWOG GU, também diretor do Centro de Oncologia de Nevada.
Segundo Daniel Herchenhorn, oncologista clínico do Centro de Oncologia D'Or, o tratamento do câncer de próstata avançado é uma área pulsante, com muitas controvérsias. “Hoje estamos revisitando o papel do tratamento local em alguns pacientes selecionados com câncer de próstata avançado, pensando cada vez maisnaqualidade de vida e na gestão dos efeitos colaterais do tratamento a longo prazo. Acho que existe hoje um reposicionamento da quimioterapia, que caiu um pouco em “desuso” nos últimos anos e desde o ano passado começou a ser repensada de uma forma mais precoce, o que é uma mudança de paradigma”, diz.
Outra questão apontada por Herchenhorn envolve os mecanismos de resistência à terapia hormonal, especialmente na tentativa de buscar biomarcadores para entender melhor porque os pacientes param de responder a essas terapias que hoje beneficiam a maior parte dos doentes. “Como tudo em oncologia, a discussão acaba caindo no entendimento genético da doença”, afirma.
O urologista da Faculdade de Medicina do ABC, Antonio CarlosPompeo, falou sobre o panorama epidemiológico do câncer de bexiga no Brasil, demonstrando que grande parte dos pacientes chega aos centros de assistência com tumores em estadiamento avançado. “Nós somos um país com dimensões continentais, com grandes diferenças na oferta de serviços médico-hospitalares. Em 2014, tivemos 10 casos por 100 mil habitantes e desse volume 10% dos casos já se apresentam com metástases ao diagnóstico”, ilustrou.
O oncologista Fernando Maluf, do COAEM, falou sobre preservação de bexiga, lembrando o desafio da seleção de pacientes e a importância da margem de ressecção. “Selecionei um trabalho que reúne seis estudos feitos pelo RTOG sobre o tratamento de preservação da bexiga, que deve surgir como primeira opção diante de um paciente com doença músculo-invasiva. Então, é possível a preservação para um grupo muito selecionado de pacientes, mas na nossa rotina a preservação nem sempre é feita em um T1, margens livres, que são os critérios clássicos, mas normalmente para pacientes que não têm indicação cirúrgica", esclareceu. Maluf observou que ainda faltam dados comparativos entre cirurgia e RT, o que explica um certo temor da comunidade médica de colocar a radioterapia como tratamento padrão. "Eu compartilho desse temor, porque penso que a cirurgia tem dados mais sólidos. Nesse caso, vale a seleção de pacientes e vale considerar a complexidade da própria cirurgia, porque em pacientes tratados por urologistas sem o olhar oncológico, a margem normalmente é muito pobre".
ASCO GU
O radio-oncologista Luis Souhani, da Mc Gill University, afirma que duas questões ficaram mais ou menos estabelecidas no ASCO GU em relação ao tratamento radioterápico do câncer de próstata. “Se fizer uma dose normal, não muito alta, e adicionar um pequeno curso de hormônio, você consegue exatamente os mesmos resultados, talvez até melhores, e diminui a toxicidade”, explica.
Segundo o especialista, outro aspecto provocativamente estimulante do simpósio foi o fato de que nos pacientes tratados com radioterapia externa e braquiterapia (tratamento intersticial), os resultados foram melhores do que naqueles que receberam apenas a radioterapia externa. “Essas duas mudanças foram importantes e provavelmente devem ser exploradas no futuro próximo”, adianta.
Para Oren Smaletz, oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e presidente do simpósio de uro-oncologia do HIAE, foi interessante verificar no encontro americano a importância do biomarcador AR-V7 também como potencial de predizer resposta para os taxanos. “A publicação no New England em 2014 havia mostrado que os pacientes AR-V7 positivos não responderiam aos agentes hormonais, e agora vemos que essa variante do receptor de androgênio também pode definir quem vai responder ou não aos taxanos, o que é muito importante”, diz.
O especialista também destaca a definição do perfil genético para câncer de bexiga. “Começa-se a definir quais são os tipos de tumores de bexiga mais responsivos e quais são mais resistentes à quimioterapia. Isso mostrou um outro caminho, e de novo os biomarcadores foram o grande foco.”
Em câncer de rim ainda estão sendo aguardados os resultados dos inibidores de checkpoint. No entanto, Smaletz ressalta o primeiro estudo de adjuvância com as novas drogas, os anti-angiogênicos, que infelizmente não demonstraram nenhum ganho de sobrevida para esses pacientes.
O especialista comentou ainda sobre o tratamento dos tumores de testículo em estadio clínico I, cenário em que existe a controvérsia entre tratar todos os pacientes ou colocá-los em active surveillance (veja vídeo).