Estudo epidemiológico que avaliou a associação entre câncer de ovário e ácidos graxos mostra que a ingestão de ácido trans elaídico industrial foi positivamente associada ao câncer de ovário, assim como o maior consumo de ácido linoléico e ácido n-3 α-linolênico. Os resultados estão em artigo de Yammine et al. na edição de setembro da Cancer Epidemiology, Biomarkers and Prevention.
Poucos estudos epidemiológicos investigaram a associação de ácidos graxos com câncer de ovário, mas dados já conhecidos mostram que os ácidos graxos afetam a obesidade, os níveis de estrogênio e o padrão inflamatório, todos fatores de risco para o câncer de ovário.
Nesta análise prospectiva conduzida por pesquisadores da IARC a partir de dados do estudo europeu EPIC (European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition) foram identificados 1.486 casos de câncer de ovário. Modelos de risco proporcional de Cox foram usados para estimar HRs de câncer de ovário em quintis de ingestão de ácidos graxos. Modelos de regressão logística multivariada foram usados para estimar ORs de câncer de ovário em tercis de ácidos graxos plasmáticos entre 633 casos e dois controles pareados em uma análise de caso-controle.
Resultados
Os pesquisadores identificaram associação positiva entre câncer de ovário e a ingestão de ácidos graxos trans formados durante processos industriais, como a hidrogenação de óleos vegetais e gorduras para fritar encontradas em alimentos processados. Os resultados reportados por Yammine et al. sugerem que a ingestão de ácido trans elaídico industrial aumentou o risco de câncer de ovário [HR comparando o quinto com o primeiro quintil Q5-Q1 = 1,29; Intervalo de confiança de 95% (IC) = 1,03-1,62; Ptrend = 0,02, q-value = 0,06]. Os autores também destacam que a Ingestão dietética de ácido linoléico n-6 (HRQ5-Q1 = 1,10; IC 95% = 1,01–1,21; Ptrend = 0,03) e ácido n-3 α-linolênico (HRQ5-Q1 = 1,18; IC 95% = 1,05–1,34; Ptrend = 0,007) presentes em gorduras para fritar também foi positivamente associada ao câncer de ovário.
Associações sugestivas foram relatadas para ácido elaídico circulante (OR comparando o terceiro com o primeiro tercil T3-T1 = 1,39; IC 95% = 0,99-1,94; Ptrend = 0,06) e ácidos α-linolênicos (ORT3-T1 = 1,30; IC 95% = 0,98-1,72; Ptrend = 0,06).
“Nossos resultados sugerem que a maior ingestão e níveis circulantes de ácido trans elaídico industrial, assim como o maior consumo de ácido linoléico e ácido α-linolênico em frituras, podem estar associados a maior risco de câncer de ovário”, concluem os autores. “Se for causal, a eliminação dos ácidos graxos trans industriais pode ter impacto na saúde pública ao reduzir o risco de câncer de ovário”, destacam.
Referência: Cancer Epidemiol Biomarkers Prev September 1 2020 (29) (9) 1739-1749; DOI: 10.1158/1055-9965.EPI-19-1477