Onconews - Terapia de privação androgênica e SARS-CoV-2 no câncer de próstata

covid19 3 bxArtigo de Montopoli et al. sugeriu que a terapia de privação androgênica (ADT ) poderia proteger parcialmente  pacientes com câncer de próstata da infecção por SARS-CoV-2. Agora, pesquisadores do Helsinki University Hospital publicaram novos dados no Annals of Oncology, indicando que não houve diferença nas possíveis comorbidades e na gravidade da doença provocada pela COVID-19 entre pacientes com e sem ADT.

“A premissa biológica para esta observação é a regulação mediada por receptor de andrógeno de TMPRSS2, uma serina protease transmembrana tipo II que é importante para a entrada de SARS-CoV-2 nas células hospedeiras. De fato, os andrógenos regulam a expressão de TMPRSS2 também em linhas celulares de carcinoma de pulmão”, argumentam os autores.

Nesta análise, os pesquisadores consideraram prontuários de pacientes com câncer de próstata atendidos no hospital de Helsinque e em Uusimaa, na Finlândia. Ao todo, 352 desses pacientes foram testados para SARS-CoV-2 entre 7 de março e 14 de maio de 2020.

Foram considerados pacientes em tratamento com ADT, incluindo homens com histórico de orquiectomia ou uma prescrição válida de análogo de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), antagonista de GnRH e / ou antiandrogênicos (flutamida, bicalutamida, enzalutamida) ou o inibidor de CYP17 abiraterona antes do teste para SARS-CoV-2 (n = 134) [38%, intervalo de confiança de 95% (CI): 33% -43 %]. A idade média desses 134 homens foi de 78,4 anos ± 8,1 desvio padrão (variação de 58 a 96 anos).  A frequência de ADT estava de acordo com a observada em uma grande coorte de homens do Reino Unido com câncer de próstata. Por outro lado, foram classificados como não-ADT aqueles pacientes que não cumpriram essas condições ou aqueles que interromperam ADT  antes de um teste de SARS-CoV-2 (n = 218; idade média 76,5 anos ± 9,4 desvio padrão, intervalo 51-96 anos).

A presença de RNA SARS-CoV-2 em amostras de swab nasofaríngeo foi analisada por RT-PCR.

Resultados

Dos 352 pacientes com câncer de próstata, 17 (4,8%, IC 95%: 2,6% –7,0%) testaram positivo para SARS-CoV-2 e 6 (35%, IC 95%: 13% –58%) deles recebiam ADT. No entanto, a positividade para SARS-CoV-2 não foi associada com ADT [6/134 em ADT versus 11/218 sem ADT; odds ratio (OR) 0,88; IC de 95% 0,32–2,44, P = 0,81]. A ADT não foi associada à gravidade da doença, avaliada pela ocorrência de óbito ou necessidade de cuidados intensivos (1/6 no grupo ADT-positivo versus 3/11 no grupo ADT-negativo; OR 0,53; IC95% 0,04–6,66, P = 0,63).

“Não houve diferença nas possíveis comorbidades e na gravidade da doença provocada pela COVID-19 entre pacientes com e sem ADT”, reportam os autores  (Tabela 1).

Tabela 1 - The presence of potential confounding factors on COVID-19 severity in SARS-CoV-2 tested patients with prostate cancer classified on the basis of being on androgen deprivation therapy

 

No ADT (n = 218)

On ADT (n = 134)

P valuea

Age > 65 years

191

125

0.10

Hypertensionb

47

30

0.89

Coronary artery diseasec

30

21

0.64

COPDd

12

8

1.0

Diabetese

17

16

0.26

Cardiac arrhythmiaf

41

30

0.42

Current smoker

17

18

0.10

ADT, androgen deprivation therapy; COPD, chronic obstructive pulmonary disease; COVID-19, coronavirus disease 2019; ICD, International Classification of Diseases; SARS-CoV-2

Referência: Koskinen M, Carpen O, Honkanen V, et al. Androgen deprivation and SARS-CoV-2 in men with prostate cancer. Ann Oncol. 2020;31(10):1417-1418. doi:10.1016/j.annonc.2020.06.015