Onconews - O cenário do câncer na África e estimativas para 2040

mapa africaEstudo que buscou estabelecer a carga do câncer na África apresentou a caracterização de 34 tipos de câncer a partir das estimativas do GLOBOCAN  2020 e a associação dessa epidemiologia com a realidade socioeconômica dos países africanos. A análise também estima a ocorrência 2,1 milhões de novos casos na África em 2040, com 1,4 milhão de mortes, indicando a necessidade urgente de fortalecer e ampliar ações de controle e gerenciamento do câncer no continente africano.

Neste estudo, os pesquisadores consideraram estimativas de incidência e mortalidade de 34 neoplasias em 54 países africanos, a partir de dados do GLOBOCAN 2020. A taxa de mortalidade por incidência (MIR) foi empregada como indicador de sobrevida em 5 anos e o contexto socioeconômico de cada país foi considerado a partir de seu índice de desenvolvimento humano (IDH). A taxa de incidência padronizada por idade (ASIR), taxa de mortalidade padronizada por idade (ASMR) e mortalidade por incidência foram calculadas por modelos de regressão linear para determinar a relação entre a carga de câncer e o IDH, por país. Os dados sobre a infraestrutura do câncer nos países africanos foram extraídos da OMS (WHO Cancer Country Profiles).

Na África, um número estimado de 1,1 milhão de novos casos ocorreram devido a neoplasias em 2020. A taxa de incidência padronizada por idade foi estimada em 132,1/100.000, variando de 78,4/100.000 (Níger) a 212,5/100.000 (La Réunion) em 2020. A taxa de mortalidade padronizada por idade foi de 88,8/100.000, variando de 56,6/100.000 na República do Congo a 139,4/100.000 no Zimbábue.

A taxa de mortalidade por incidência de todos os cânceres combinados foi de 0,64, variando de 0,49 nas Maurícias a 0,78 na Gâmbia. O IDH teve uma correlação negativa significativa com a MIR de todos os grupos de câncer combinados e dos principais grupos de câncer (próstata, mama, colo do útero e colorretal). O IDH explicou 75% da variação na sobrevida global de câncer em 5 anos (MIR). Até 2040, a carga de todas as neoplasias combinadas deverá aumentar para 2,1 milhões de novos casos de câncer na África, com 1,4 milhão de mortes.

“As altas taxas de mortalidade por câncer na África exigem uma abordagem holística em relação ao controle e gerenciamento do câncer, incluindo, mas não limitado, a aumentar a conscientização sobre o câncer, adotar a prevenção primária e secundária, mitigar os fatores de risco, melhorar a infraestrutura do câncer e o tratamento oportuno”, destacam os autores.

Cenário

A incidência de câncer na África aumentou de 715.000 em 2008 para 1,1 milhão em 2020, enquanto a mortalidade por câncer saltou de 542.000 óbitos em 2008 para 711.000 em 2020. Em 2020, os autores descrevem profundas disparidades geográficas de ASIR e ASMR na África, particularmente nos principais grupos de câncer. Por localização anatômica, mama, colo do útero, próstata, fígado e câncer colorretal foram os principais grupos de câncer, representando 48% e 45% dos novos casos e mortes, respectivamente, na África. Egito, Nigéria, África do Sul, Etiópia e Marrocos tiveram a maior incidência e mortalidade por câncer em 2020, países que também respondem por 45% dos casos e 44% das mortes por câncer. La Reunion teve o ASIR mais alto, seguido de África do Sul, Zimbábue, Namíbia, Cabo Verde e Egito.

O rápido aumento na incidência do câncer de mama, próstata e câncer colorretal foi observado na África Subsaariana, onde taxas de incidência de câncer de mama e próstata experimentaram crescimento anual de 3,7% e 5,2%, respectivamente, em Kampala, Uganda, de 1991 a 2010. “De acordo com esses estudos, identificamos que o câncer de mama, câncer de próstata e câncer colorretal estão entre as principais malignidades na África”, descreve a análise.

Em relação ao câncer do colo do útero, o continente africano foi responsável por 19,4% dos casos mundiais (117.316 de 604.127) e por 22,4% (76.745 de 341.831) das mortes. “Também observamos que o câncer do colo do útero é a principal malignidade na maioria da África Subsaariana”, relatam os autores. Dos 10 países africanos para os quais os dados de cobertura vacinal contra o HPV (doses recomendadas) estavam disponíveis em 2019, o estudo descreve que a cobertura vacinal variou de 25% no Senegal a 94% em Ruanda.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto, na Frontiers in Public Health. 

Referência: Sharma R, Aashima, Nanda M, Fronterre C, Sewagudde P, Ssentongo AE, Yenney K, Arhin ND, Oh J, Amponsah-Manu F and Ssentongo P (2022) Mapping Cancer in Africa: A Comprehensive and Comparable Characterization of 34 Cancer Types Using Estimates From GLOBOCAN 2020. Front. Public Health 10:839835. doi: 10.3389/fpubh.2022.839835