Uma série de artigos no Journal of Global Oncology (JGO) discute a questão da oncofertilidade, destacada como prioridade para a comunidade oncológica global. Entendida como parte integrante da qualidade de vida, a fertilidade atual e futura deve ser preservada nos pacientes em tratamento oncológico, mas diferentes barreiras ainda inibem o acesso a programas de oncofertilidade.
Artigo de Maria Bourlon e colegas analisa a literatura disponível no JGO sobre a realidade da oncofertilidade em diferentes perspectivas, incluindo artigo de 2015 que descreve a criação do primeiro consórcio internacional para incentivar a preservação da fertilidade no paciente de câncer. A iniciativa partiu do NIH, em 2007, e em pouco tempo ganhou expressão.
“Em menos de uma década esse grupo se expandiu para 43 países de seis continentes”, diz o artigo de Bourlon, M et al. Hoje, representa uma ampla rede global, a Oncofertility Professional Engagement Network (OPEN), responsável por duas grandes pesquisas envolvendo 40 centros de fertilidade e câncer, em 28 países. Os dados revelam que 93% dos entrevistados reconhecem barreiras para implementar estratégias de preservação da fertilidade, seja por limitações financeiras (62%), por restrições religiosas e culturais (61%) ou até pela falta de fornecedores especializados (24%).
A base de dados também revela diferenças culturais. Bourlon, M et al recorrem a artigo de Rashedi, AS et al. para lembrar que na Tunísia, por exemplo, mulheres solteiras tinham medo de perder a virgindade após procedimentos transvaginais.
Apesar dos entraves, há evidências animadoras, indicando que existem oportunidades de expansão. “O desenvolvimento de registros de oncofertilidade em países de baixa e média renda (LMICs) permitiria comparação em escala global”, propõem os autores.
Como exemplo sustentável, o Australasian Oncofertility Registry aparece também como referência de uma abordagem inovadora. O banco de dados on-line coleta prospectivamente todos os dados de pacientes com câncer até 44 anos de idade que receberam intervenções de preservação de fertilidade. O Registro começou em 2014 na Austrália e Nova Zelândia, financiado por uma companhia de software norte-americana.
Outro exemplo vem do trabalho de Shiraishi e colegas, desta vez demonstrando a importância de ações educativas para fomentar a adesão a programas de preservação da fertilidade.
Por fim, Bourlon, M et al. reafirmam que preservar a oncofertilidade é um assunto importante para pacientes, famílias e comunidades, em todos os países. “Desenvolver diretrizes de oncofertilidade estratificadas por recursos, a exemplo do que produz a ASCO para diferentes subtipos de câncer, seria uma iniciativa bem-vinda e oportuna”, recomendam.
Referências: Bourlon, M. T., Anazodo, A., Woodruff, T. K., & Segelov, E. (2020). Oncofertility as a Universal Right and a Global Oncology Priority. JCO Global Oncology, (6), 314–316. doi:10.1200/go.19.00337