Resultados atualizados do estudo de Fase III ADAURA publicados no New England Journal of Medicine (NEJM) demonstraram que a sobrevida livre de doença em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas estádios IB-IIIA com mutação no gene que codifica o EGFR (receptor do fator de crescimento epidérmico) foi significativamente maior com osimertinibe como tratamento adjuvante em comparação com placebo. Gilberto de Castro Jr. (foto), oncologista do ICESP e do Hospital Sírio Libanês, comenta os achados.
Osimertinibe é superior em sobrevida global em comparação a inibidores de tirosina quinase do EGFR em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) metastático que apresentam mutações ativadoras de EGFR. No entanto, a eficácia e segurança do osimertinibe como terapia adjuvante são desconhecidas.
Neste estudo duplo-cego de Fase III, pacientes com CPCNP EGFR-mutado, completamente ressecados e tratados com intenção curativa, foram randomizados (1: 1) para receber osimertinibe (80 mg uma vez ao dia) ou placebo por 3 anos. O desfecho primário foi a sobrevida livre de doença entre pacientes com doença em estádios II a IIIA (de acordo com a avaliação do investigador). Os desfechos secundários incluíram sobrevida livre de doença na população geral de pacientes com doença estádio IB a IIIA, sobrevida global e segurança.
Resultados
682 pacientes foram randomizados (339 para o grupo osimertinibe e 343 para o grupo placebo). Aos 24 meses, 90% dos pacientes com doença estádio II a IIIA no grupo osimertinibe (95% CI, 84 a 93) e 44% daqueles no grupo placebo (95% CI, 37 a 51) estavam vivos e sem doença (hazard ratio global para recorrência de doença ou morte, 0,17; 99,06% CI, 0,11 a 0,26; P <0,001).
Na população geral do estudo, 89% dos pacientes no braço osimertinibe (95% CI, 85 a 92) e 52% daqueles no braço placebo (95% CI, 46 a 58) estavam vivos e livres de doença em 24 meses (hazard ratio global para recorrência da doença ou morte, 0,20; 99,12% CI, 0,14-0,30; P <0,001).
Aos 24 meses, 98% dos pacientes no braço osimertinibe (95% CI, 95 a 99) e 85% dos pacientes no braço placebo (95% CI, 80 a 89) estavam vivos e não tinham doença do sistema nervoso central (hazard ratio global para recorrência da doença ou morte, 0,18; 95% CI, 0,10 a 0,33).
Os dados de sobrevida global estão imaturos. 29 pacientes morreram (9 no grupo do osimertinibe e 20 no grupo do placebo), e nenhuma nova preocupação de segurança foi observada.
"Este estudo demonstra que osimertinibe como tratamento de alvo molecular no cenário adjuvante diminui a chance de recidiva em 80%", ressalta Gilberto de Castro Junior, professor da Faculdade de Medicina da USP. "O impacto em sobrevida global, considerando a toxicidade desta medicação e o custo do tratamento, ainda está por ser demonstrado, devido à atividade da mesma no paciente com doença recidivada/metastática. Outro ponto é que nem todos os pacientes foram submetidos à ressonância magnética para avaliar possíveis depósitos de doença metastática no sistema nervoso central", observa o especialista.
O estudo foi financiado pela AstraZeneca, e está registrado em ClinicalTrials.gov, NCT02511106.
Referência: Osimertinib in Resected EGFR-Mutated Non–Small-Cell Lung Cancer - Yi-Long Wu, M.D., Masahiro Tsuboi, M.D., Jie He, M.D., Thomas John, Ph.D., Christian Grohe, M.D., Margarita Majem, M.D., Jonathan W. Goldman, M.D., Konstantin Laktionov, Ph.D., Sang-We Kim, M.D., Ph.D., Terufumi Kato, M.D., Huu-Vinh Vu, M.D., Ph.D., Shun Lu, M.D., et al., for the ADAURA Investigators * October 29, 2020 - N Engl J Med 2020; 383:1711-1723 - DOI: 10.1056/NEJMoa2027071