Artigo de Gray, J.E. et al. na Journal of Thoracic Oncology traz resultados de 3 anos de seguimento do estudo PACIFIC, com dados atualizados de sobrevida global que confirmam o benefício clínico de durvalumabe após quimiorradioterapia no câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) estádio III e consolidam o regime PACIFIC como padrão de atendimento nessa população. A oncologista Clarissa Baldotto (foto), Diretora de Cuidado Integrado na Oncologia D’Or e membro da Diretoria do GBOT, comenta o trabalho.
O estudo de Fase 3 PACIFIC avaliou pacientes com CPCNP irressecável em estádio III, sem progressão após quimiorradioterapia, e mostrou benefício significativo de durvalumabe em relação ao placebo nos principais endpoints de sobrevida livre de progressão (razão de risco [HR] = 0,52, intervalo de confiança de 95% [IC] : 0,42–65, p <0,0001) e sobrevida global (SG) (HR = 0,68, IC 95%: 0,53–0,87, p = 0,00251), com perfil de segurança gerenciável.
Pacientes estratificados por idade, sexo e histórico de tabagismo foram randomizados (2: 1) para receber durvalumabe, 10 mg / kg por via intravenosa a cada 2 semanas, ou placebo por até 12 meses. A SG foi analisada usando um teste estratificado de log-rank na população por intenção de tratar. As medianas de SG foram estimadas em 12, 24 e 36 meses pelo método de Kaplan-Meier.
Resultados
Em 31 de janeiro de 2019, 48,2% dos pacientes haviam morrido (44,1% e 56,5% nos grupos durvalumab e placebo, respectivamente). A duração média do acompanhamento foi de 33,3 meses. A SG permaneceu consistente com o relatado anteriormente (HR estratificado = 0,69 [IC 95%: 0,55-0,86]); a SG mediana não foi alcançada com durvalumabe, mas foi de 29,1 meses com placebo. As taxas de SG em 12, 24 e 36 meses com durvalumabe e placebo foram 83,1% versus 74,6%, 66,3% versus 55,3% e 57,0% versus 43,5%, respectivamente. Todos os resultados secundários avaliados mostraram benefícios consistentes com as análises anteriores.
“Os resultados atualizados do PACIFIC, aproximadamente 3 anos após a randomização do último paciente, demonstram que os benefícios clínicos de durvalumabe em termos de SG e tempo para a primeira e segunda terapia subsequente ou morte foram duradouros e mantidos a longo prazo. É importante ressaltar que mais de 50% dos pacientes que receberam durvalumabe estavam vivos aos 36 meses (57,0% versus 43,5%)”, destacam os autores.
Comentários
Por Clarissa Baldotto (foto), Diretora de Cuidado Integrado na Oncologia D’Or e membro da Diretoria do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT)
Passaram-se 2 anos desde a primeira publicação, com resultados positivos de sobrevida livre de progressão, do estudo PACIFIC (Antonia SJ et al. N Engl J Med 2017; 377:1919). Desde então, o padrão de tratamento para pacientes com doença localmente avançada foi modificado com a incorporação da imunoterapia ao tradicional esquema combinado de quimioterapia e radioterapia, que há mais de 10 anos permanecia o mesmo. Em 2018 foram publicados os resultados também positivos de sobrevida global (SG) (Antonia SJ et al. N Engl J Med 2018; 379: 2342).
O recente estudo publicado no Journal of Thoracic Oncology consolida nossa prática, mostrando a manutenção desse benefício com o seguimento mais longo, de 3 anos. Mais da metade dos paciente permanecem vivos em 3 anos, com um benefício de cerca de 30% de SG comparado com o grupo controle.
A partir de agora, com este amadurecimento dos dados, vamos aguardar os próximos passos. Um deles é tentar maximizar os benefícios demonstrados no PACIFIC, como vem sendo feito em estudos combinando radioterapia e imunoterapia. Por outro lado, também precisamos responder algumas perguntas que ficaram abertas no estudo, como o papel do tratamento em pacientes com mutações driver e a influência do PD-L1 ou eventualmente de outros biomarcadores na predição de benefício. E claro, sempre avaliando com nossos dados de mundo real como se comportará o perfil de toxicidade, que no estudo foi muito favorável.
Referência: Gray, J. E., Villegas, A., Daniel, D., Vicente, D., Murakami, S., Hui, R., … Antonia, S. J. (2019). Brief report: Three-year overall survival with durvalumab after chemoradiotherapy in Stage III NSCLC - Update from PACIFIC. Journal of Thoracic Oncology. doi:10.1016/j.jtho.2019.10.002