Onconews - Padrão de cuidados no osteossarcoma de alto grau

Osteossarcoma_NET_OK.jpgA equipe de oncologia do Hospital Amaral Carvalho analisa os resultados do estudo EURAMOS-1 e reforça a importância de novas estratégias para o tratamento do osteossarcoma de alto risco. "Dentre os achados relevantes deste estudo, observou-se não haver vantagem para sobrevida livre de eventos para o regime contendo Ifosfamida e etoposide (MAPIE), sendo registrada ainda maior toxicidade pelo uso do regime intensificado", apontam.

Por Carlos Augusto Mendonça Beato, Ulisses Ribaldo Nicolau, Alexandre Tobias e Luiz Alexandre Albuquerque Freixo Campos
 
Considerada uma das mais marcantes histórias de sucesso pela incorporação da terapia citotóxica ao tratamento cirúrgico na década de 80 do século 20, a adição de terapia baseada em cisplatina, metotrexate e doxorrubicina transformou o tratamento do osteossarcoma, cujas taxas de sobrevida em 5 anos após cirurgia exclusiva passaram de 20% a 70%, pela incorporação da terapia citotóxica ao tratamento cirúrgico1,2.
 
A despeito deste marcante feito, uma fração dos pacientes tratados por equipes multidisciplinares com uso adequado de terapia citotóxica previamente e após a ressecção tumoral, evoluem com controle de doença desfavorável e óbito, frequentemente por disseminação metastática à distância do osteossarcoma. Dentre os reconhecidos fatores que demarcam uma má evolução clínica, a presença de mais de 10% de células tumorais viáveis observada no espécime cirúrgico após exposição à terapia citotóxica tem sido reconhecida como um marcador de “quimioresistência”, predizendo evolução desfavorável independentemente de regimes citotóxicos utilizados, sendo reportadas taxas de sobrevida global em 5 anos em  torno de 45-55% para pacientes cujos tumores apresentam mais de 10% de células viáveis após quimioterapia pré-operatória, versus 75-80% de sobrevida global no mesmo período para aqueles que  apresentam menos de 10% de células viáveis no espécime cirúrgico3.  Diante destes achados, discutem-se estratégias de intensificação de terapia ou uso de regimes citotóxicos alternativos para pacientes cujos achados histopatológicos à ressecção tumoral denotem baixa resposta à terapia utilizada.
 
Em estudo multicêntrico recentemente publicado, esforço que reuniu o Children’s Oncology Group (COG), Cooperative Osteosarcoma Study Group (COSS),  European Osteosarcoma Intergroup (EIO) e Scandinavian Sarcoma Group (SSG), o “EURAMUS-1” randomizou 618 pacientes portadores de osteossarcoma que receberam terapia citotóxica com Metotrexate, Cisplatina e Doxorrubicina (MAP) e que apresentaram baixa taxa de resposta patológica pela presença de mais de 10% de células tumorais viáveis ao exame histopatológico de espécime ressecado,  alocados em 02 braços, em que se comparou o prosseguimento de terapia com MAP versus a intensificação do mesmo pela alternância do uso de Ifosfamida e etoposide (MAPIE)4. Dentre os achados relevantes deste estudo, observou-se não haver vantagem para sobrevida livre de eventos para o regime contendo Ifosfamida e etoposide (MAPIE), sendo registrada ainda maior toxicidade pelo uso do regime intensificado. Dentre as conclusões dos autores, não se justifica a incorporação de ifosfamida e etoposide a pacientes portadores de osteossarcoma que apresentem baixa taxa de resposta histopatológica à terapia citotóxica. Novas estratégias devem ser desenvolvidas para o tratamento deste subgrupo de pacientes de reconhecido mau prognóstico dentre os pacientes diagnosticados com osteossarcoma.

Leia mais: EURAMOS-1: estratégias no osteossarcoma de alto grau
 
Referências
 
1.         Eilber, F., et al., Adjuvant chemotherapy for osteosarcoma: a randomized prospective trial. J Clin Oncol, 1987. 5(1): p. 21-6.
 
2.         Link, M.P., et al., The effect of adjuvant chemotherapy on relapse-free survival in patients with osteosarcoma of the extremity. N Engl J Med, 1986. 314(25): p. 1600-6.
 
3.         Souhami, R.L., et al., Randomised trial of two regimens of chemotherapy in operable osteosarcoma: a study of the European Osteosarcoma Intergroup. Lancet, 1997. 350(9082): p. 911-7.
 
4.         Marina, N.M., et al., Comparison of MAPIE versus MAP in patients with a poor response to preoperative chemotherapy for newly diagnosed high-grade osteosarcoma (EURAMOS-1): an open-label, international, randomised controlled trial. Lancet Oncol. - Published online August 25, 2016 http://dx.doi.org/10.1016/S1470-2045(16)30214-5