Pesquisa global realizada pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) e pela Sociedade Europeia de Oncologia Pediátrica (SIOPE) mostrou que apenas 10% dos respondentes afirmam ter recebido formação adequada sobre como adaptar os cuidados oncológicos específicos para a população LGBTQ. “Este trabalho representa um avanço importante para promover a igualdade nos cuidados para todas as pessoas com câncer, incluindo aquelas que fazem parte de minorias”, afirmaram os autores em artigo publicado no ESMO Open.
Indivíduos lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e queer (LGBTQ) com câncer têm problemas e necessidades de saúde específicos e únicos. Existem relatos de desigualdades no cuidado prestado a esses pacientes, o que torna importante avaliar as atitudes e o conhecimento das necessidades LGBTQ entre aqueles que prestam cuidados em saúde.
Nesse estudo realizado pelo Grupo de Trabalho de Adolescentes e Jovens Adultos da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) e da Sociedade Europeia de Oncologia Pediátrica (SIOP Europa) foi aplicado um questionário compreendendo 67 perguntas que cobrem dados demográficos, conhecimento e educação das necessidades de saúde LGBTQ e atitudes em relação aos pacientes LGBTQ com câncer.
Foram recolhidas respostas de 672 profissionais de oncologia de 75 países de todo o mundo para avaliar as atitudes dos prestadores de cuidados oncológicos em relação ao tratamento de pessoas com câncer deste grupo minoritário sexual e de gênero. O questionário foi realizado entre 15 de dezembro de 2020 e 31 de janeiro de 2021.
Entre os entrevistados, a maioria manifestou interesse em obter mais formação sobre como tratar o câncer em pacientes LGBTQ, com apenas 10% dos respondentes afirmando ter recebido formação adequada sobre o tema na graduação/pós-graduação. “Embora as necessidades psicológicas dos indivíduos LGBTQ tenham sido claramente compreendidas por 14% dos profissionais de oncologia, foram encontrados elevados graus de incerteza entre os respondentes em relação aos fatores de risco de cânceres específicos para esta comunidade, incluindo o tabagismo e a exposição ao HPV, e a necessidade de rastreio do câncer”, observaram os autores.
O trabalho também demonstrou que a maioria dos oncologistas não pergunta sobre orientação sexual e identidade de gênero durante a primeira visita (64% e 58%, respetivamente), apesar de mais de metade dos entrevistados reconhecerem o seu valor para fornecer informações personalizadas, evitando suposições de heterossexualidade e uma linguagem heteronormativa. Apenas uma minoria dos entrevistados considerou-se bem-informada sobre a saúde dos pacientes gays/lésbicas e transexuais (44% e 25%, respetivamente) e sobre as necessidades psicossociais (34%). Houve grande interesse em receber educação sobre as necessidades únicas de saúde dos pacientes LGBTQ (73%).
“Embora um número crescente de indivíduos se identifique como LGBQT, há uma escassez de recomendações baseadas em evidências para o tratamento do câncer nesta população. Este estudo representa um trunfo valioso para promover a igualdade na saúde para todas as pessoas com câncer, incluindo aquelas que fazem parte de minorias”, concluíram os autores.
Referência:
An assessment of the attitudes, knowledge, and education regarding the health care needs of LGBTQ patients with cancer: results of an ESMO/SIOPE global survey - E. Saloustros, A. Ferrari, I. Bozovic-Spasojevic, K. Scheinemann, S. Jezdic, F.A. Peccatori - Open Access. Published: June 30, 2024 DOI:https://doi.org/10.1016/j.esmoop.2024.103618