Estudo que avaliou 143 aprovações concedidas pelo FDA entre 1º de janeiro de 2013 e 31 de julho de 2018 identificou que 16 (17%) dos 96 medicamentos antineoplásicos registrados para comercialização foram aprovados com base em braços-controle sub-ótimos, abaixo do ideal. Os resultados foram publicados em maio no JAMA Oncology.
Apesar do aumento no número de medicamentos aprovados pela agência norte-americana FDA, um número substancial de antineoplásicos recebeu autorização de mercado com base em dados que não comprovam sua superioridade sobre a terapia padrão. É o que sustenta estudo qualitativo de pesquisadores da Mayo Clinic, com achados que podem despertar preocupações em clínicos e pacientes.
O estudo buscou estimar o percentual de estudos clínicos randomizados que usaram um braço-controle considerado sub-ótimo. Para determinar a terapia-padrão foram consideradas as diretrizes publicadas na literatura 1 ano antes do início do estudo. A qualidade do braço-controle foi considerada sub-ótima quando a escolha do braço-controle excluiu um agente recomendado, quando o braço-controle não foi especificado ou, ainda, quando o braço-controle foi inferior a uma alternativa disponível.
Resultados
Foram incluídos 145 estudos que levaram a 143 aprovações de medicamentos entre 1º de janeiro de 2013 e 31 de julho de 2018. Desse total, 47 estudos de braço único foram excluídos. Os 98 estudos restantes levaram a 96 aprovações de drogas, sendo que 16 delas (17%) foram baseadas em estudos clínicos com braços-controle subótimos; 15 foram ensaios internacionais, 1 realizado nos Estados Unidos.
Quando a análise considerou o tipo de aprovação, 14 ensaios embasaram registro regular e 2 ensaios subsidiaram registros acelerados. Quando categorizados pela natureza do controle subótimo, os autores descrevem que 4 (25%) estudos omitiram o tratamento ativo no braço- controle limitando a escolha do pesquisador, 10 (63%) estudos omitiram o tratamento ativo no braço-controle usando um comparador sabidamente inferior a outros disponíveis ou não permitiram combinações, enquanto 2 (13%) ensaios usaram no braço- controle um tratamento já empregado anteriormente e com conhecida falta de benefício associado à reexposição.
Em conclusão, os autores sustentam que embora as aprovações de medicamentos anticâncer estejam aumentando, uma proporção dos novos agentes está chegando ao mercado sem superioridade comprovada em relação ao padrão de atendimento. “A escolha do braço-controle deve ser otimizada para garantir que os novos antineoplásicos comercializados sejam realmente superiores ao que a maioria dos médicos prescreveria fora de um ambiente de estudo clínico”, recomendam os autores.
Referência: Hilal, T., Sonbol, M. B., & Prasad, V. (2019). Analysis of Control Arm Quality in Randomized Clinical Trials Leading to Anticancer Drug Approval by the US Food and Drug Administration. JAMA Oncology. doi:10.1001/jamaoncol.2019.0167