Qual é o prognóstico de pacientes tratados para linfoma difuso de grandes células B (DLBCL) com histórico de exposição ocupacional a agrotóxicos? Estudo de coorte retrospectivo publicado no JAMA Network Open mostrou que a exposição profissional a pesticidas agrícolas pode ser um fator de risco independente para falha do tratamento e foi associada à menor sobrevida livre de eventos e sobrevida global entre os pacientes com linfoma difuso de grandes células B.
O uso profissional de pesticidas é um fator de risco para o linfoma não-Hodgkin. Os principais mecanismos biológicos de agrotóxicos e quimioterápicos são a genotoxicidade e a geração de espécies reativas de oxigênio. A adaptação celular entre pacientes expostos a baixas doses de compostos genotóxicos e oxidativos pode dificultar a eficácia da quimioterapia em pacientes com linfoma.
Nesse estudo, os pesquisadores buscaram avaliar a associação da exposição ocupacional a pesticidas com a resposta à imunoquimioterapia e sobrevida em pacientes tratados para linfoma difuso de grandes células B. Realizado em seis hospitais em Languedoc-Roussillon, França, o estudo avaliou pacientes tratados entre 1º de julho de 2010 e 31 de maio de 2015 para linfoma difuso de grandes células B, com seguimento de 2 anos.
Métodos e resultados
Um total de 404 pacientes com diagnóstico recente de linfoma difuso de grandes células B tratados com imunoquimioterapia à base de antraciclinas foram incluídos antes do início do estudo. A história ocupacional foi reconstruída e analisada com a matriz de exposição profissional PESTIPOP para determinar a probabilidade de exposição ocupacional a pesticidas. A análise dos dados foi realizada entre 15 de julho de 2017 e 15 de julho de 2018.
Após ajuste para fatores de confusão, foram avaliadas a falha no tratamento (resposta parcial, doença estável, progressão da doença ou interrupção por efeitos tóxicos), sobrevida livre de eventos em dois anos e sobrevida global entre pacientes expostos e não expostos a pesticidas.
Um total de 244 pacientes (mediana de idade, 61,3 [15,2] anos; 153 [62,7%] homens) apresentaram dados ocupacionais completos. Destes pacientes, 67 (27,4%) apresentavam exposição ocupacional a agrotóxicos, com 38 pacientes expostos por meio de trabalho agrícola.
A exposição ocupacional não foi associada a características clínicas e biológicas no momento do diagnóstico. Pacientes expostos a pesticidas no trabalho tiveram uma taxa de falha do tratamento significativamente maior (22,4% vs 11,3%; p = 0,03; odds ratio ajustada [AOR] para fatores de confusão, 3,0; 95% IC, 1,3-6,9). Essa diferença foi maior entre os pacientes com exposição ocupacional agrícola em comparação com outros pacientes (29% vs 11,7%; AOR, 5,1; 95% IC, 2,0-12,8).
A sobrevida livre de eventos em dois anos foi de 70% no grupo com exposição ocupacional versus 82% no grupo não exposto (hazard ratio ajustado [AHR] para fatores de confusão, 2,2; 95% IC, 1,3-3,9). Entre os pacientes com exposição ocupacional agrícola em comparação com outros pacientes, a diferença foi mais acentuada (2 anos de sobrevida livre de eventos, 56% vs 83%; AHR, 3,5; 95% IC, 1,9-6,5). Da mesma forma, a sobrevida global em 2 anos foi menor no grupo de pacientes com exposição ocupacional agrícola em comparação com outros pacientes (81% vs 92%; AHR, 3,9; 95% IC, 1,5-10,0).
Os pesquisadores concluíram que a taxa de falha do tratamento foi significativamente maior entre os pacientes tratados para linfoma difuso de grandes células B expostos a pesticidas em comparação com os pacientes não expostos; a associação foi mais forte quando os pacientes com exposição a ocupações agrícolas foram comparados com aqueles com outras ocupações.
Referência: Association of Occupational Pesticide Exposure With Immunochemotherapy Response and Survival Among Patients With Diffuse Large B-Cell Lymphoma – Sylvain Lamure et al - JAMA Netw Open. 2019;2(4):e192093. doi:10.1001/jamanetworkopen.2019.2093