O hematologista Marco Aurelio Salvino (foto), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), é coautor de estudo multicêntrico internacional que realizou um levantamento sobre a quantidade, tipos de tumores e fases de estudo de ensaios clínicos relacionados a terapias com células CAR-T em tumores sólidos registrados na plataforma ClinicalTrial.Gov. O trabalho foi selecionado para apresentação em pôster no European CAR T-cell Meeting.
“Embora a terapia com células CAR-T tenha demonstrado sucesso no tratamento de malignidades hematológicas, sua eficácia em tumores sólidos ainda enfrenta desafios importantes”, observam os autores. “Os tumores sólidos têm vários mecanismos potenciais de escape imunológico em comparação com malignidades hematológicas, como por exemplo a vasculatura anormal, matriz extracelular densa, pressão elevada do líquido intersticial e hipóxia, células imunossupressoras. Além disso, apresenta profunda heterogeneidade intratumoral e é difícil atingir um antígeno em tumores sólidos que possa ser eficaz, mas com toxicidade fora do tumor no alvo aceitável, como CD19 ou BCMA”, acrescentam.
O estudo envolveu uma pesquisa abrangente em ClinicTrial.Gov utilizando termos específicos como "tumor sólido", "câncer de mama", "câncer de pulmão", "câncer colorretal", "carcinoma hepatocelular", "câncer de próstata", "metástase hepática"," "neuroblastoma", "câncer cervical" e "câncer de ovário" dentro do filtro de condição/doença para tumores sólidos.
As malignidades hematológicas foram categorizadas usando termos como "malignidades hematológicas", "linfoma", "leucemia" e "mieloma múltiplo". A terapia com células CAR-T foi especificamente direcionada na pesquisa do filtro de intervenção. O filtro de tipo de estudo foi definido como intervencionista, e o intervalo de dados para início do estudo foi de 1º de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2023.
Resultados
Analisando os gráficos, os pesquisadores observaram uma lacuna temporal distinta no início dos ensaios de terapia com células CAR-T, com tumores hematológicos precedendo tumores sólidos. Em 2015 estavam em andamento diversos ensaios para linfomas e leucemias, seguidos por um aumento comparável para mieloma múltiplo em 2017. Mesmo no panorama atual, ainda existem menos de 10 ensaios por ano para qualquer tumor sólido.
Além disso, um aumento visível no número global de ensaios, especialmente para tumores sólidos, é aparente a partir de 2022, indicando uma tendência de crescimento que requer confirmação adicional. Os resultados também sugerem que as aplicações CAR-T para tumores sólidos estão evoluindo para uma maior especificidade para antígenos associados a tumores (TAAs), ao invés de serem específicos de órgãos.
Atualmente, os TAAs comuns direcionados em ensaios CAR-T incluem antígeno carcinoembrionário (CEA), mesotelina, antígeno de membrana específico da próstata (PSMA), ERBB2, mucina-1 (MUC-1), variante III de EGFR, entre outros. A maioria dos ensaios CAR-T por órgão concentra-se no câncer de pulmão, carcinoma hepatocelular, câncer colorretal e câncer de mama.
“Tomando a aprovação comercial como um indicador-chave de eficácia e segurança surge um padrão notável, pois nenhum produto de terapia avançada recebeu aprovação com menos de 20 ensaios em vigor durante o seu respectivo ano. Embora esta metodologia empírica sirva como uma representação indireta, mas significativa, ela sugere que apesar da maior prevalência em comparação com tumores hematológicos, os tumores sólidos ainda têm um caminho considerável para percorrer até obter a aprovação do produto, dado o cenário atual dos ensaios”, concluíram os autores.
Referência: Navigating the Current Landscape: A Survey of CART Cell Therapy Clinical Trials for Solid Tumors in the Modern Era