Testes de sangue de DNA livre de células (cf-bDNA) e teste fecal de última geração têm o potencial de mudar o rastreamento do câncer colorretal (CCR). Estudo que buscou estimar os impactos clínicos e econômicos dos novos métodos de rastreamento do CCR concluiu que testes de biópsia líquida baseados em cf-bDNA são uma opção para indivíduos que não aceitam outras alternativas disponíveis, mas não são tão eficazes quanto a colonoscopia ou o teste fecal. “A primeira geração de testes a partir do sangue representa um novo e empolgante paradigma na triagem do câncer colorretal, mas, por enquanto, se puder fazer colonoscopia ou teste fecal, não mude para um exame de sangue”, disse Uri Ladabaum (foto), professor de gastroenterologia da Stanford Medicine e primeiro autor do artigo, publicado no Annals of Internal Medicine.
Nesta análise de custo-efetividade, Ladabaum e colegas utilizaram o MOSAIC (Modelo de Rastreamento e Vigilância para Câncer Colorretal) para comparar os novos testes de CCR com aqueles já estabelecidos, considerando impacto na incidência e mortalidade por CCR, anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs) e custos associados.
A análise de caso considerou colonoscopia a cada 10 anos, teste imunoquímico fecal anual (FIT) e teste trienal do DNA fecal multialvo de última geração, FIT-RNA, cf-bDNA (Guardant Shield) ou cf-bDNA (Freenome) e mostra que as razões relativas (RRs) e intervalos de incerteza de 95% (UIs) versus nenhuma triagem para incidência de CCR foram, respectivamente, de 0,21 (0,19 a 0,22), 0,29 (0,27 a 0,31), 0,33 (0,32 a 0,36), 0,32 (0,30 a 0,34), 0,58 (0,55 a 0,61) e 0,58 (0,55 a 0,60); as RRs para morte por CCR foram 0,19 (0,17 a 0,20), 0,25 (0,23 a 0,27), 0,28 (0,27 a 0,30), 0,28 (0,26 a 0,30), 0,44 (0,42 a 0,47) e 0,46 (0,44 a 0,49), respectivamente. O teste cf-bDNA (Shield; preço de tabela $ 1495) custou $ 89 600 ($ 74 800 a $ 102 300) por QALY ganho versus nenhuma triagem.
Os resultados da análise de sensibilidade mostram que os custos incrementais excederam os benefícios quando os novos intervalos de teste foram encurtados para 1 ou 2 anos. Os autores descrevem que o teste cf-bDNA correspondeu ao impacto do FIT na mortalidade por CCR em 1,35 (1,30 a 1,40) vezes a taxa de aceitação do FIT, assumindo igual acompanhamento de colonoscopia. “Se as pessoas que aceitam colonoscopia ou testes fecal mudassem para cf-bDNA, as mortes por CCR aumentariam”, analisam os autores. No entanto, esse efeito negativo seria superado se cada 3 dessas substituições fossem contrabalançadas pela aceitação de cf-bDNA por 2 ou mais pessoas que recusam os demais métodos, assumindo igual acompanhamento por colonoscopia.
Em síntese, os testes cf-bDNA de primeira geração podem gerar benefícios ou danos líquidos, dependendo do equilíbrio entre atingir a triagem em pessoas que recusam outras alternativas versus substituir o cf-bDNA por métodos mais eficazes.
Ladabaum destacou que, em nível populacional, os testes de sangue serão eficazes na redução de mortes por câncer colorretal somente se as pessoas que fizerem o teste de forma confiável a cada três anos concordarem em receber uma colonoscopia de acompanhamento nos casos em que o exame de sangue indicar resultado positivo.
O rastreamento regular pode ajudar a identificar tumores iniciais e pólipos pré-cancerígenos, reduzindo o risco de um indivíduo desenvolver câncer colorretal e morrer em consequência da doença. A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA recomenda que todos os adultos entre 45 e 75 anos sejam rastreados para câncer colorretal. No entanto, os dados mostram que cerca de 1 em cada 3 adultos americanos na faixa etária recomendada nunca foi submetido a exames para câncer colorretal, o que leva os médicos a acreditar que os novos métodos podem ser um incentivo para ampliar a adesão à triagem.
Em 2014, a Food and Drug Administration dos EUA aprovou o primeiro teste de triagem colorretal multialvo baseado em amostra fecal, no qual as fezes coletadas em casa por um paciente em intervalos de um a três anos são analisadas para a presença de pequenas quantidades de sangue ou DNA cancerígeno. Mais recentemente, a FDA aprovou um novo método que procura por fragmentos de DNA cancerígeno circulando na corrente sanguínea. Diante dos resultados de Ladabaum e colegas, fica evidente que esses testes de sangue de primeira geração não diagnosticam bem os pólipos pré-cancerígenos.
Referência:
Uri Ladabaum, Ajitha Mannalithara, Robert E. Schoen, et al. Projected Impact and Cost-Effectiveness of Novel Molecular Blood-Based or Stool-Based Screening Tests for Colorectal Cancer. Ann Intern Med. [Epub 29 October 2024]. doi:10.7326/ANNALS-24-00910