A 39ª edição do congresso da Associação Europeia de Urologia (EAU) destacou novos achados sobre a triagem do câncer de próstata, mostrando que um simples exame de sangue a cada cinco anos é suficiente para rastrear homens de baixo risco. Os resultados foram apresentados por Peter Albers, do Departamento de Urologia da Heinrich-Heine University Düsseldorf, em estudo com publicação simultânea na European Urology.
A atual recomendação da EAU para triagem adaptada ao risco com base nos níveis iniciais de PSA considera intervalos de acompanhamento de 2 anos para homens com PSA acima de 1 ng/mL.
Nesta análise, os pesquisadores consideraram homens de meia-idade (entre 45 e 50 anos) que participaram do ensaio PROBASE, estudo prospectivo alemão que avalia diferentes protocolos de triagem do câncer de próstata (CaP). Os pacientes foram divididos em três grupos de acordo com os resultados dos exames iniciais: aqueles com níveis de PSA < 1,5 ng/mL (baixo risco), aqueles com níveis entre 1,5 e 3 ng/mL (risco intermediário) e aqueles com níveis > 3 ng/mL (alto risco). Os pacientes de baixo risco e risco intermediário foram acompanhados com um segundo teste de PSA após 2 e 5 anos, enquanto os pacientes de alto risco foram encaminhados para ressonância magnética e biópsia.
Entre mais de 20.000 pacientes de baixo risco participantes do estudo, 12.517 realizaram seu segundo teste de PSA aos 50 anos de idade. Albers e colegas identificaram que 1,2% (n = 146) desses pacientes tinham níveis de PSA > 3 ng/mL e receberam encaminhamento para ressonância magnética e biópsia. Os resultados revelaram que um total de 11% (n = 16) dos pacientes com níveis mais elevados de PSA foram diagnosticados com câncer de próstata, apenas 0,13% da coorte total.
“Ao aumentar o nível de baixo risco de 1 ng/mL para 1,5 ng/mL permitimos que mais 20% dos homens da nossa coorte tivessem um intervalo maior entre os testes e apenas uma parcela muito pequena desenvolveu câncer nesse período”, destacou Albers, concluindo que diante desses resultados o intervalo de triagem para pacientes de baixo risco pode ser prolongado, com risco adicional mínimo.
O estudo também revisou as políticas de detecção precoce em toda a União Europeia e realizou grupos focais com urologistas para identificar como as diretrizes foram interpretadas na prática clínica.
O rastreamento do câncer de próstata tem sido historicamente um assunto controverso, com preocupações tanto em torno de falsos positivos, que levam a tratamentos invasivos desnecessários, quanto em relação a falsos negativos, que fazem com que os casos de câncer sejam perdidos. Apesar da mudança gradual, no esteio de novos exames de imagem que evitam biópsias desnecessárias, e da vigilância ativa, que monitora homens com doença inicial, as atuais diretrizes dos governos e organismos de saúde permanecem pouco claras e muitas vezes contraditórias. Há uma clara necessidade de um rastreio do câncer de próstata mais organizado, argumentam os autores.