Estudo brasileiro confirmou a significativa heterogeneidade molecular dos genes BRCA1 e BRCA2 no Brasil e se projeta como o primeiro estudo a mostrar que perfis de mutações recorrentes podem ser únicos para diferentes regiões do País. Os resultados foram publicados na Scientific Reports em artigo que tem a geneticista molecular Edenir Inêz Palmero como primeira autora, ao lado de Dirce Carraro e Barbara Alemar, com a coordenação da oncogeneticista Patricia Ashton-Prolla*.
O estudo teve o objetivo de descrever o cenário das mutações germinativas do BRCA no Brasil e investigar se o uso de um painel de mutações recorrentes seria útil nessa população. Um total de 649 relatos de variantes patogênicas ou com suspeita de mutação foram recuperados de 28 centros, em 11 estados brasileiros. A maior parte das análises foi proveniente de São Paulo (60,1%), Estado que também contribuiu com o maior número de centros participantes (N = 7). O segundo maior número de relatórios foi obtido no Rio Grande do Sul (16,5%).
No total, foram relatadas 126 e 103 variantes patogênicas distintas de BRCA1 e BRCA2, respectivamente.
Na população BRCA1 mutada (441/649), 33 mutações diferentes corresponderam a 73,4% de todas as variantes identificadas. As nove mutações BRCA1 mais prevalentes foram responsáveis por 50,3% de todas as mutações relatadas, inclusive a mutação do fundador europeu c.5266dupC (anteriormente conhecida como 5382insC), que foi a mais comum, responsável por 20,2% de todas as variantes encontradas no BRCA1.
No BRCA2, mutações foram identificadas em 32% de todos os indivíduos testados. O perfil mutacional do BRCA2 foi mais heterogêneo e apresentou maior número de mutações não recorrentes (aquelas vistas apenas uma vez) em relação ao BRCA 1 (35,1% vs 5,4%).
Um total de vinte e seis novas variantes foram relatadas em ambos os genes, sendo que pequenas deleções e variantes de nucleotídeo único (SNVs) foram as mais frequentes. Os autores observam que algumas mutações recorrentes foram relatadas exclusivamente em determinadas regiões geográficas. “Esses dados devem ser explorados em coortes regionais maiores para determinar se a triagem com um painel de mutações recorrentes seria eficaz”, recomendam.
O BRCA1 e o BRCA2 são genes supressores de tumor e desempenham papel importante no reparo do DNA por meio da recombinação homóloga. Indivíduos portadores de variantes patogênicas germinativas em BRCA1 e BRCA2 estão fortemente predispostos ao desenvolvimento de câncer de mama e de ovário, com risco de 85% e 45%, respectivamente além de outros tumores sólidos.
Assim, identificar a presença da mutação BRCA é fundamental não apenas para fornecer aconselhamento genético adequado e discutir intervenções de redução de risco, mas também para determinar opções de tratamento na doença metastática.
A íntegra do artigo está disponível, em acesso aberto.
* Edenir Inez Palmero, Hospital do Amor (Hospital de Câncer de Barretos)
Dirce Maria Carraro, AC Camargo Cancer Center
Bárbara Alemar, HCPA/ UFRGS
Patrícia Ashton-Prolla, HCPA/ UFRGS
Referências: The germline mutational landscape of BRCA 1 and BRCA 2 in Brazil - Scientific Reports, volume 8, Article number: 9188 (2018)