Onconews - Impacto global da poluição na incidência e mortalidade por câncer

poluentes atmosfEstudo meta-analítico que incorporou dados de 53 estudos de coorte e oito estudos de caso-controle demonstrou relação significativa entre a exposição a material particulado (PM2,5; PM10), dióxido de nitrogênio (NO2) e ozônio (O3) com a incidência e mortalidade por câncer em cinco locais anatômicos: mama, fígado, pulmão, pâncreas e bexiga. Os resultados estão em artigo de Ramamoorthy et al. no JCO Global Oncology.

A poluição do ar tem sido consistentemente apontada como um fator ambiental significativo que afeta a saúde humana. A OMS define a poluição do ar ambiente como poluentes potencialmente nocivos emitidos pelas indústrias, residências, carros e caminhões. Em 2019, 99% da população mundial residia em áreas onde a qualidade do ar não atendia aos padrões da OMS (WHO: Ambient (Outdoor) Air Pollution, 2022).

Neste estudo, o objetivo foi examinar a associação entre a exposição aos principais poluentes do ar ambiente e a incidência e mortalidade do câncer de pulmão e de outros tipos de câncer não pulmonar.

A meta-análise utilizou bases de dados PubMed e EMBASE para acessar estudos publicados que atendiam aos critérios de elegibilidade. A análise primária considerou a associação entre a exposição a poluentes atmosféricos e a incidência e mortalidade por câncer. A qualidade do estudo foi avaliada pela Escala Newcastle Ottawa.

Foram incluídos 61 estudos, dos quais 53 eram estudos de coorte e oito eram estudos de caso-controle. O material particulado com 2,5 mm ou menos de diâmetro (PM2,5) foi o poluente de exposição em metade (55,5%) dos estudos selecionados, e o câncer de pulmão foi o câncer mais estudado em 59% dos estudos.

Análise conjunta da incidência do câncer e da exposição relatada em estudos de coorte e de caso-controle demonstrou relação significativa (risco relativo [RR], 1,04 [IC 95%, 1,02 a 1,05]; I2, 88,93%; P < 0,05). Associação com a incidência de câncer de pulmão foi observada, ainda, entre a exposição a poluentes como PM2,5 (RR, 1,08 [IC 95%, 1,04 a 1,12]; I2, 68,52%) e dióxido de nitrogênio (NO2) (RR, 1,03 [IC 95%, 1,01 a 1,05]; I2, 73,52%). A relação entre a exposição aos poluentes atmosféricos e a mortalidade por câncer demonstrou relação significativa (RR, 1,08 [IC 95%, 1,07 a 1,10]; I2, 94,77%; P < 0,001).

Entre os poluentes de maior exposição, PM2,5 (RR, 1,15 [IC 95%, 1,08 a 1,22]; I2, 95,33%) e NO2 (RR, 1,05 [IC 95%, 1,02 a 1,08]; I2, 89,98%) foram associados com mortalidade por câncer de pulmão.

O estudo confirma a associação entre a exposição à poluição do ar e a incidência e mortalidade por câncer de pulmão, corroborando evidências anteriores. “Os resultados dessa meta-análise podem contribuir para a prevenção e diagnóstico do câncer e ajudar a informar a tomada de decisões”, destacam os autores. A análise revela, ainda, que a força da associação para a incidência de câncer foi maior nos homens do que nas mulheres, o que pode ser atribuído a taxas mais elevadas de consumo de tabaco na população masculina.

A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IASLC, na sigla em inglês) classifica a poluição do ar externo e partículas transportadas pelo ar de 2,5 µm ou menos (PM2.5) como um carcinógeno do grupo 1.

Em 2020, estimativas indicam 19,3 milhões de novos casos de câncer notificados no mundo, com perda de 10 milhões de vidas, refletindo o rápido aumento da carga global do câncer.

A íntegra do estudo está disponível no JCO Global Oncology em acesso aberto.

Referência:

JCO Global Oncology, Volume 10

https://doi.org/10.1200/GO.23.00427