Dados de estudos populacionais demonstram aumento na incidência de certos tipos de câncer em pacientes com menos de 50 anos, configurando o chamado câncer de início precoce. Análise de Ribelle et al. com dados de mundo real mostra mudanças geracionais na incidência de diversas neoplasias, com resultados que reforçam o alerta para a excessiva carga de câncer em adultos jovens.
Este estudo transversal incluiu todos os pacientes com diagnóstico de câncer registrados em um hospital universitário de Málaga, Espanha, entre 1998 e 2021, onde foram analisadas 18 neoplasias. Para cada neoplasia, foi determinada a proporção de pacientes com menos de 50 anos e com 50 anos ou mais no total de casos de câncer diagnosticados a cada ano. Além disso, o limite de idade foi reduzido para 45-40 anos. As alterações nessas proporções entre cada ano e o ano seguinte foram avaliadas através do cálculo da variação percentual anual (APC), e uma avaliação final dessas alterações foi realizada através da determinação da APC média (AAPC).
Os resultados foram publicados no JCO Global Oncology e mostram que dos 24.596 pacientes, 5.466 (22,2%) apresentavam câncer de início precoce. A incidência de todos os tumores aumentou ao longo do período do estudo em ambas as faixas etárias analisadas. Os pesquisadores descrevem que o aumento da AAPC foi maior em pacientes com câncer de início precoce para as seguintes neoplasias: cabeça e pescoço (6,1% v 4,6%), cólon (11,0% v 8,2%), testicular (16,3% v –13,1%), Linfoma não Hodgkin (8,4% v 5,9%), reto (16,1% v 6,8%), rim (27,8% v 20,1%) e sarcoma (43,4% v 28,6%). Esse aumento foi confirmado em pacientes com menos de 45 anos e 40 anos.
“Nossos resultados são consistentes com os dados publicados para a maioria dos tumores analisados. Este problema global de saúde pública requer a máxima atenção para diminuir o excesso de câncer em pacientes jovens”, destacam os autores.
A análise sublinha que vários estudos, baseados principalmente em dados de registo de câncer de base populacional, relataram aumento significativo na incidência de vários tipos de tumores em indivíduos nascidos entre as décadas de 1970 e 1990 em praticamente todos os países do mundo. Este aumento na incidência foi maior do que o observado em indivíduos nascidos na década de 1950 e tem sido observado em vários tipos de neoplasias, especialmente naquelas relacionadas à obesidade, como colorretal, corpo uterino, vesícula biliar, rim, pâncreas, mama, adenocarcinoma esofágico, gástrico e mieloma múltiplo.
Os resultados dos pesquisadores espanhóis mostram que a incidência de câncer na população analisada aumentou ao longo dos 24 anos do estudo nos grupos com diagnóstico de câncer de início precoce e entre aqueles com 50 anos ou mais. No entanto, as diferenças favoreceram os pacientes com câncer de início precoce para algumas neoplasias. A magnitude do aumento no número de casos foi maior em pacientes com menos de 50 anos em tumores de cabeça e pescoço, cólon, testículo, linfoma não-Hodgkin, reto, rim e sarcoma. Além disso, a análise realizada com ponto de corte de 45 anos confirmou esse aumento de incidência e destacou o aumento de outros tipos de neoplasias, como cervical, melanoma, câncer de ovário e pancreático.
Referência: Nuria Ribelles et al., Increasing Annual Cancer Incidence in Patients Age 20-49 Years: A Real-Data Study. JCO Glob Oncol 10, e2300363(2024). DOI:10.1200/GO.23.00363
