Estudo de pesquisadores do A.C.Camargo Cancer Center apresentado no WCLC 2017 em Yokohama, no Japão, buscou avaliar se o escarro pode ser representativo na detecção de mutações driver em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células. O trabalho foi tema de apresentação oral da especialista Vanessa Karen de Sá (foto) na sessão de biomarcadores em câncer de pulmão. O escarro tem sido alvo da descoberta de biomarcadores não-invasivos para câncer de pulmão pois contém células epiteliais das vias aéreas, e as alterações moleculares identificadas no material são mais propensas a refletir alterações tumorais associadas.
A incidência de câncer de pulmão aumentou significativamente e a doença continua a ser a causa mais comum de mortes por câncer em todo o mundo. A melhor compreensão do microambiente tumoral e das ações sistêmicas dos tumores, combinadas com o recente advento da biópsia líquida, pode permitir o diagnóstico molecular com métodos não invasivos para detecção e monitoramento de tumores de pacientes.
Métodos
Desde janeiro de 2017, amostras de escarro foram coletadas prospectivamente no momento do diagnóstico para avaliação futura de mutações acionáveis em EGFR, KRAS, BRAF e NRAS em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células tratados na instituição.
A partir de 20 amostras de escarro já coletadas, 5 foram confirmadas para mutações driver (uma em KRAS e 4 em EGFR) em biópsia de tecido, sendo 2 das amostras positivas para T790M em DNA tumoral circulante (ctDNA) isolado do plasma.
O DNA foi extraído do escarro usando QIAamp DNA midi kit (Qiagen). As mutações somáticas do tumor foram investigadas por sequenciamento alvo usando um painel Ion Ampliseq ™ (ThermoFisher Scientific), contendo regiões de hotspot de 14 genes frequentemente mutados em tumores sólidos (incluindo EGFR).
A amplificação multiplex foi realizada com 10 ng de DNA usando Multiplex PCR Master Mix (Qiagen) e o sequenciamento de alto rendimento foi realizado usando a plataforma ION Proton. As mutações somáticas foram consideradas se o alelo variante estava presente em mais de 0,5% das leituras, considerando uma profundidade de cobertura mínima de 20,000X. Uma cobertura média de 172,524X foi obtida nas cinco amostras.
Resultados
Foram detectadas mutações em 3 de cada 5 amostras de escarro de pacientes com mutações driver previamente conhecidas (duas deleções de exon 19 e um exon 18 G719A em EGFR). A maior frequência foi detectada no único paciente com coleta espontânea de escarro (23%). As outras duas mutações foram detectadas em baixas frequências (0,5 e 0,6%) em amostras derivadas da indução de escarro. Também foi encontrada T790M em um paciente positivo para T790M em ctDNA isolado do plasma.
“Esses achados preliminares indicam que mutações driver podem ser identificadas a partir de amostras de escarro obtidas rotineiramente. Assim, a capacidade de examinar o escarro pode fornecer uma fonte conveniente de amostragem e ser adaptada futuramente para a triagem em grande escala”, afirmaram os autores.
Segundo Vanessa, a biópsia líquida baseada no escarro é viável e pode oferecer uma alternativa para identificar alterações genômicas em pacientes com câncer de pulmão, principalmente nos casos em que os resultados obtidos pelo plasma na detecção dessas mutações não são informativos. "No entanto, algumas situações como dificuldades na indução do escarro e lesões periféricas podem representar desafios para identificar tais mutações neste tipo de amostra”, observa.
Referência: OA 07.08 - Clinical Potential of Sputum in Detecting Driver Mutations in Patients with Non-Small Cell Lung Cancer: A Preliminary Study (ID 7540) - 17:10 - 17:20 | Presenting Author(s): Vanessa Karen De Sá | Author(s): Helano Carioca Freitas, G.T. Torrezan, E.H.R. Olivieri, C.A. De Paula, D.M. Carraro, V.K. De Sa