Onconews - Preservação de órgão no câncer retal

cancer retoEstudo de fase II que buscou determinar a taxa de preservação de órgãos e os resultados de pacientes com câncer de reto em estágio inicial tratados com quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia de excisão transanal (TES) mostrou que três meses de quimioterapia de indução podem permitir a cirurgia de preservação de órgãos bem tolerada nessa população de pacientes. Os resultados foram publicados 18 de agosto no Journal of Clinical Oncology (JCO).

A terapia de preservação de órgãos para câncer retal em estágio inicial I/IIA destina-se a evitar distúrbios funcionais ou uma ostomia permanente associada à excisão total do mesorreto (ETM). Neste estudo de fase II foram incluídos pacientes com adenocarcinoma clínico T1-T3abN0 de reto baixo ou médio retal elegíveis para ressecção endoscópica, tratados com 3 meses de quimioterapia (ácido folínico modificado-fluorouracil-oxaliplatina 6 ou capecitabina-oxaliplatina). Aqueles com evidência de resposta realizaram a cirurgia endoscópica transanal 2-6 semanas depois.

O endpoint primário foi a taxa de preservação de órgãos especificada pelo protocolo, definida como a proporção de pacientes com tumor rebaixado para ypT0/T1N0/X e que evitaram cirurgia radical.

Os resultados reportados no JCO mostram que dos 58 pacientes inscritos, todos iniciaram a quimioterapia e 56 foram encaminhados para a cirurgia. Os autores descrevem que 33/58 pacientes tiveram redução do tumor para ypT0/1N0/X na amostra cirúrgica, resultando em uma taxa de preservação de órgão especificada pelo protocolo de intenção de tratar de 57% (IC de 90%, 45 a 68). Dos 23 pacientes restantes recomendados para cirurgia de excisão total do mesorreto, 13 recusaram e optaram por prosseguir diretamente para a observação, resultando em 79% (IC 90%, 69 a 88) de preservação do órgão. Os restantes 10/23 pacientes realizaram excisão total do mesorreto, dos quais sete não tinham doença histopatológica residual.

A análise revela que a sobrevida livre de recidiva locorregional em 1 ano e 2 anos foi, respectivamente, de 98% (IC 95%, 86 a 100) e 90% (IC 95%, 58 a 98), sem recorrências distantes ou óbitos. Em relação à qualidade de vida, não foi observada mudança significativa.

“Três meses de quimioterapia de indução podem promover com sucesso o downstaging tumoral em uma proporção significativa de pacientes com câncer retal inicial, permitindo uma cirurgia de preservação de órgãos bem tolerada”, concluem os autores.

Em síntese, este estudo canadense sugere que 3 meses de ácido folínico modificado-fluorouracil-oxaliplatina 6 (mFOLFOX6)/capecitabina-oxaliplatina (CAPOX) seguido de cirurgia de excisão transanal podem ser usados ​​para tratar câncer retal cT1-3bN0, demonstrando que a indução de mFOLFOX6/CAPOX seguida de cirurgia de excisão transanal foi bem tolerada e resultou na redução para tumores ypT0/T1 cN0 em 57% dos 58 pacientes inscritos com adenocarcinoma bem a moderadamente diferenciado e reparo de incompatibilidade preservado. No geral, 79% dos pacientes seguiram uma estratégia de preservação de órgãos e dois pacientes apresentaram recaída locorregional durante o período de acompanhamento de 15,4 meses. Os escores de qualidade de vida e função retal não demonstraram quase nenhuma mudança em comparação com a linha de base.

Esses resultados foram originalmente apresentados na ASCO2021 e sugerem que esta nova estratégia de tratamento leva ao downstaging para ypT0/T1 cN0 na maioria dos pacientes selecionados com câncer retal inicial.

Referências: Neoadjuvant Chemotherapy, Excision, and Observation for Early Rectal Cancer: The Phase II NEO Trial (CCTG CO.28) Primary End Point Results - DOI: 10.1200/JCO.22.00184 Journal of Clinical Oncology - Published online August 18, 2022.