Gustavo Viani (foto), professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, é primeiro autor de estudo publicado no Lancet Regional Health – Americas que buscou avaliar se a radioterapia estereotática corporal é uma estratégia mais custo-efetiva no sistema público de saúde brasileiro do que a radioterapia fracionada convencional para o tratamento do câncer de pulmão de células não pequenas estágio I não ressecável.
Existem estudos de custo-efetividade da radioterapia estereotática corporal (SBRT) no tratamento do câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP), fornecendo evidências de que a SBRT é uma opção custo-efetiva em comparação com a radioterapia convencional, ablação por radioterapia e os melhores cuidados de suporte para pacientes com CPCNP clinicamente inoperáveis em estágio inicial. No entanto, não há estudos avaliando a custo-efetividade do SBRT versus radioterapia fracionada convencional (CFRT) para CPNPC avaliando anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs) como desfecho. Além disso, a relação custo-benefício da radioterapia estereotática versus radioterapia fracionada convencional para CPCNP não foi investigada em países de renda média alta.
“Como muitos outros países de renda média alta, o Brasil possui um número limitado de aceleradores lineares (LINACs) equipados com tecnologia para realizar SBRT. No país, os sistemas público e privado não cobrem nem custeiam o uso da SBRT. O principal argumento contra a cobertura e pagamento da SBRT são os custos e a ausência de análise de custo-efetividade que demonstre seu benefício”, argumentam os autores.
Adotando a perspectiva do Sistema Único de Saúde (SUS) como pagador, foi elaborado um modelo de Markov com horizonte de vida para delinear os estados de saúde para uma coorte de homens de 75 anos com CPNPC inoperável após tratamento com SBRT ou CFRT. As probabilidades de transição e as utilidades dos estados de saúde foram adaptadas da literatura. Os custos foram baseados nos valores de ressarcimento do sistema público de saúde e simulados no setor privado.
O tratamento com radioterapia estereotática corporal (SBRT) resulta em mais anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs) e custos com uma relação custo-efetividade incremental (ICER) de R$ 164,86 (U$ 65,16) por QALY e R$ 105 (U$ 41,50) por ano-vida ganho (LYG). Essa estratégia foi custo-efetiva, considerando uma disposição a pagar de R$ 25.000 (U$ 9.881,42) por QALY. O benefício monetário líquido (NMB) foi aproximadamente duas vezes maior. Os resultados foram confirmados com 92% de acurácia na análise de sensibilidade probabilística.
“A relação custo-efetividade incremental ficou abaixo do limite de disposição a pagar, o que apoia fortemente a incorporação da intervenção. Usando um limite de R$ 25.000 por QALY, o SBRT foi mais custo-efetivo do que o CFRT para câncer de pulmão de células não pequenas em um sistema de saúde público de um país de renda média-alta. O SBRT gera um benefício monetário líquido mais alto que o CFRT, o que pode abrir a oportunidade de incorporar novas tecnologias. Esses resultados podem ser reproduzíveis em outros países de renda média alta”, concluem os autores.
O estudo foi financiado pela Varian Medical Systems.
Referência: Gustavo Viani Arruda, Marina Lourenção, Jorge Henrique Caldeira de Oliveira, Julia Simões Correa Galendi, Alexandre Arthur Jacinto, Cost-effectiveness of stereotactic body radiotherapy versus conventional radiotherapy for the treatment of surgically ineligible stage I non-small cell lung cancer in the Brazilian public health system, The Lancet Regional Health - Americas, Volume 14, 2022, 100329, ISSN 2667-193X, https://doi.org/10.1016/j.lana.2022.100329.