A privação socioeconômica não está uniformemente associada a cuidados de fim de vida mais precários em pacientes com câncer. A conclusão é de estudo publicado no JCO Oncology Practice que avalia a relação entre privação socioeconômica e raça nos cuidados de fim de vida entre pacientes com câncer que vieram a óbito.
Este estudo retrospectivo utilizou registros médicos eletrônicos de um sistema de saúde acadêmico para identificar 33.635 adultos com câncer que morreram entre 2013 e 2019. Usando regressão logística multivariável, os pesquisadores examinaram associações entre características do paciente falecido e o atendimento de cuidados de fim de vida, incluindo visitas ao departamento de emergência (DE), internações em unidades de cuidados intensivos (UTI), consulta de cuidados paliativos (CAPS), estadia em hospices e óbitos intra-hospitalares. O índice de privação social foi utilizado para avaliar as desvantagens socioeconômicas.
Resultados
Os pacientes falecidos que pertenciam a minorias raciais minorizados tiveram maiores chances de permanência na UTI em comparação com aqueles pacientes brancos com privação social (por exemplo, outra raça Q3: aOR, 2,06 [99% CI, 1,26 a 0,3,39]). Os pacientes brancos e negros com maior grau de privação socioeconômica tiveram menos visitas ao pronto-socorro (Q3 branco: aOR, 0,382 [99% CI, 0,263 a 0,556]; Q3 negro: aOR, 0,566 [99% CI, 0,373 a 0,858]) em comparação com pacientes brancos com menor grau de privação socioeconômica.
Em comparação com os pacientes brancos que viviam em áreas menos desfavorecidas, os pacientes de minorias raciais tinham maior probabilidade de receber consultas de cuidados paliativos (aOR, 0,727 [99% CI, 0,592 a 0,893]) e encaminhamento para hospice (aOR, 0,845 [99% CI, 0,724 a 0,986]). Maior privação socioeconômica foi associada a maiores chances de morte hospitalar em relação aos pacientes brancos menos carentes (por exemplo, negros Q4: aOR, 2,16 [99% CI, 1,82 a 2,56]).
Em síntese, entre os pacientes com câncer pertencentes a minorias raciais, uma maior privação socioeconômica foi associada a um maior recebimento de cuidados de fim de vida conforme recomendado (ou seja, consultas de cuidados paliativos e encaminhamentos a hospices) e a uma maior utilização de cuidados e resultados considerados de má qualidade (ou seja, unidade de cuidados intensivos [UTI] e morte hospitalar). Entre os pacientes brancos, a maior privação socioeconômica foi geralmente associada ao menor uso de cuidados.
“Algumas medidas estabelecidas de qualidade dos cuidados de fim de vida (isto é, evitar a morte na UTI e no hospital) podem não ser atingíveis nem preferíveis para pacientes com maiores necessidades socioeconómicas. Os esforços para reduzir as disparidades no tratamento do câncer nos cuidados de fim de vida devem considerar as múltiplas características sociais dos pacientes”, concluíram os autores.
Referência: Cross SH, Yabroff KR, Yeager KA, Curseen KA, Quest TE, Kamal A, Zarrabi AJ, Kavalieratos D. Social Deprivation and End-of-Life Care Use Among Adults With Cancer. JCO Oncol Pract. 2023 Nov 20:OP2300420. doi: 10.1200/OP.23.00420. Epub ahead of print. PMID: 37983588.