Um artigo publicado na edição de 6 de março do New England Journal of Medicine trouxe o resultado de um seguimento de longo prazo, realizado por pesquisadores do Hospital da Universidade de Uppsala, na Suécia, que mostrou uma redução substancial na mortalidade de pacientes com câncer de próstata localizado submetidos à prostatectomia radical versus aqueles acompanhados com vigilância ativa.
Os pesquisadores usaram dados do Scandinavian Prostate Cancer Group Study Número 4 (SPCG -4), que randomizou 695 pacientes com câncer de próstata localizado para cirurgia ou a para vigilância ativa, acompanhados por até 24 anos. No estudo SPCG - 4 os pacientes foram aleatoriamente designados para cada um dos dois braços entre 1989 e 1999, período anterior à era do antígeno prostático específico (PSA). Os desfechos primários foram morte por qualquer causa, morte por câncer de próstata e risco de metástases; e os endpoints secundários incluíram o início da terapia de privação androgênica.
No estudo, 200 dos 347 pacientes do grupo de cirurgia e 247 dos 348 pacientes do grupo de vigilância ativa morreram. Dessas mortes, 63 no grupo de cirurgia e 99 no grupo de vigilância foram de câncer de próstata. Os pacientes tratados com prostatectomia radical tiveram o risco de morte por qualquer causa (p <0,001), morte por câncer de próstata (p = 0,001) e metástases à distância (p <0,001) reduzidos significativamente, e a terapia de privação androgênica (p <0,001) foi exigida com menos frequência.
Na análise de subgrupo, a redução na mortalidade por qualquer causa foi mais expressiva no braço submetido à prostatectomia radical, significativa em pacientes com menos de 65 anos (p <0,001), em pacientes com baixo risco (p=0,002) e com doença de risco intermediário (p=0,02). A redução no risco de mortalidade específica por câncer de próstata foi significativa nos pacientes com menos de 65 anos (p=0,002) e em pacientes com doença de risco intermediário (p <0,001).
A redução do risco de metástases à distância também foi significativa, tanto em pacientes com idade <65 anos (p <0,001) como naqueles com idade ≥ 65 anos (p = 0,04), além de pacientes com baixo risco (p=0,006) e doença de risco intermediário (p<0,001). Os pacientes no grupo da prostatectomia radical foram significativamente menos propensos à privação androgênica em ambas as categorias etárias e em todas as três categorias de risco.
"Os últimos resultados do ensaio SPCG - 4 indicam que a cirurgia pode melhorar não apenas a sobrevida, especialmente em homens mais jovens ou com doença de risco intermediário, mas também reduzir o desenvolvimento de metástases e a necessidade de tratamento paliativo", disse a co-autora do estudo, Jennifer Rider (foto), professora-assistente do Departamento de Epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Harvard e professora-assistente do Brigham and Women's Hospital. Após 18 anos de seguimento, aproximadamente 40% dos pacientes no grupo de prostatectomia radical e 60 % no grupo de vigilância tiveram progressão da doença, com ou sem metástases confirmadas, e receberam a terapia de privação androgênica ou outros tratamentos paliativos.
Apesar disso, uma grande proporção de homens permanece vivos no follow-up de 18 anos sem necessidade de cirurgia inicial ou qualquer terapia subsequente, apontando para os benefícios de estratégias de vigilância ativa em pacientes selecionados, para limitar o overtreatment.
Os pesquisadores descobriram também que a terapia de privação androgênica foi utilizada em menos pacientes submetidos à prostatectomia radical. O benefício da cirurgia em relação à morte por câncer de próstata foi maior em homens com menos de 65 anos de idade e naqueles com câncer de próstata de risco intermediário. No entanto, a prostatectomia radical foi associada a um risco reduzido de metástases nos homens mais velhos.
O seguimento prolongado confirmou uma redução significativa na mortalidade após a prostatectomia radical, e o número necessário para tratar para evitar uma morte continuou a diminuir quando o tratamento foi modificado de acordo com a idade no momento do diagnóstico e o risco de tumor. Uma grande proporção de sobreviventes de longo prazo do grupo de vigilância não exigiu qualquer tratamento paliativo.
O estudo foi financiado pelo Swedish Cancer Society, National Institutes of Health, Karolinska Institute, Prostate Cancer Foundation e Percy Falk Foundation.
Referência: Bill-Axelson A, Holmberg L, Garmo H, et al. Radical Prostatectomy versus Watchful Waiting in Early Prostate Cancer. New England Journal of Medicine 2014; 370(10):932-42.