As mulheres com mutações de BRCA enfrentam uma difícil decisão: submeter-se ou não a uma ooforectomia profilática, e quando isso deve acontecer. Estudos já mostraram que a cirurgia preventiva de ovário reduz o risco de desenvolver câncer de mama e de ovário em mulheres com mutações BRCA1 ou BRCA2.
Agora, um novo grande estudo prospectivo internacional publicado no Journal of Clinical Oncology é o primeiro a mostrar uma vantagem global de redução da mortalidade com a ooforectomia e sugere que as mulheres com mutações BRCA1 devem realizar a cirurgia ovariana preventiva por volta dos 35 anos. As mulheres portadoras da mutação BRCA2 parecem não ter risco aumentado aos 35 anos, e podem retardar este processo.
Ao todo, 5787 mulheres com mutações BRCA de um registro internacional foram acompanhadas de 1995 a 2011. Os investigadores examinaram a relação entre a ooforectomia profilática e as taxas dos cânceres de ovário, de trompas de falópio e peritoneal primário (abdominal), e a taxa global de morte (mortalidade total) aos 70 anos. Entre as participantes, 2.274 não realizaram ooforectomia, 2.123 já haviam feito a cirurgia quando entraram no estudo e 1.390 foram submetidas a ooforectomia durante o período de acompanhamento. Após um período médio de 5,6 anos, 186 mulheres desenvolveram câncer.
Os pesquisadores descobriram que a ooforectomia reduziu o risco de câncer de ovário em 80%. Para as mulheres portadoras da mutação BRCA1, adiar a cirurgia até 40 anos de idade aumenta o risco de câncer de ovário a 4%, porcentagem que sobe para 14,2% se a mulher esperar até os 50 anos para fazer a cirurgia. Já entre as portadoras da mutação BRCA2, apenas um caso de câncer de ovário foi diagnosticado antes dos 50 anos.
Durante o estudo morreram 511 mulheres, sendo 333 mortes por câncer de mama, 68 de câncer ovário, trompa de falópio ou peritoneal, e o restante de outras causas. A ooforectomia profilática também reduziu o risco de morte por qualquer causa em 77%, maior do que o benefício da quimioterapia, e foi igualmente benéfica para portadoras das duas mutações.
Para o principal autor da investigação, Steven Narod, professor de medicina na Universidade de Toronto, Canadá, os dados são tão impressionantes que ele acredita que a ooforectomia profilática aos 35 anos deveria se tornar um padrão universal para as mulheres com mutações BRCA1. Don Dizon, membro do Comitê Cancer Communications da ASCO, disse em um comunicado que estes resultados sugerem que a cirurgia deve ser realizada assim que for possível. “É importante ressaltar que a cirurgia traz benefícios duradouros, reduzindo substancialmente o risco de câncer de ovário e o risco total de mortalidade," acrescentou.
Referência: ASCO