Fernando Campos (foto), oncologista do A.C.Camargo Cancer Center, é primeiro autor de revisão sistemática e meta-análise que avalia as diferenças de sobrevida em pacientes com osteossarcoma extra-esquelético ressecado tratados com dois tipos diferentes de quimioterapia neoadjuvante. Os resultados foram publicados no periódico Clinical Oncology.
O osteossarcoma extra-esquelético (OSEE) é um tumor maligno que se desenvolve em tecidos moles, caracterizado pela produção de matriz óssea ou osteoide pelas células tumorais. O tratamento padrão para a doença localizada é a ressecção ampla, e a radioterapia e a quimioterapia são geralmente incorporadas ao manejo dos pacientes.
“No tratamento do osteossarcoma extra-esquelético, não há um consenso entre os especialistas quanto ao tipo de regime de quimioterapia (neo)adjuvante, sendo que geralmente é utilizado ou o esquema empregado no manejo do osteossarcoma convencional, baseado em platina, ou aquele usado no tratamento dos sarcomas de partes moles (SPM) de alto grau, que envolve a combinação de antraciclina com ifosfamida”.
Para investigar a diferença na sobrevida entre esses dois regimes de quimioterapia, os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática de estudos que relatam as taxas de sobrevida livre de doença (SLD) em 5 anos entre pacientes com osteossarcoma extra-esquelético submetidos à cirurgia e que receberam quimioterapia (neo)adjuvante do tipo osteossarcoma ou tipo-STS.
Entre os 401 artigos identificados pela busca sistemática nas bases de dados PubMed, Embase e Cochrane Central Register of Controlled Trials, seis estudos retrospectivos foram incluídos na análise final. No total, foram incluídos no estudo 319 pacientes com osteossarcoma extra-esquelético localizado/ressecado.
Resultados
A meta-análise mostrou um benefício na SLD em 5 anos favorecendo o uso de quimioterapia do tipo osteossarcoma (risco relativo = 1,32, 95% CI 1,03–1,69; P = 0,54); A heterogeneidade I2 foi de 0%. A taxa de SLD em 5 anos foi de 56,3% (95% CI 48,3–64,3) com quimioterapia do tipo osteossarcoma e 45,2% (95% CI 34,5–55,9) com quimioterapia do tipo STS, com heterogeneidade I2 de 27% e 0%, respectivamente.
Nosso estudo sugere haver uma diferença entre os diferentes tipos de regime de quimioterapia que vem sendo atualmente utilizados no tratamento do OSEE localizado e ressecado. Ao mesmo tempo, mostramos que a evidência científica atual sobre esse tema é frágil, de maneira que, a despeito dos nossos resultados, não podemos estabelecer o regime baseado em platina como padrão. Além disso, é importante entendermos quem é o paciente que pode se beneficiar dessa modalidade de tratamento. O fato é que parcerias colaborativas entre as diversas instituições mundiais especializadas no tratamento dos sarcomas são essenciais, e na verdade já estão acontecendo, para avançar o conhecimento e tratamento dos sarcomas ultra-raros como é o caso dos OSEE”, conclui Campos.
Referência: Campos F, Téres R, Sebio A, Bettim BB, Martinez-Trufero J. Survival Differences of Patients with Resected Extraskeletal Osteosarcoma Receiving Two Different (Neo)Adjuvant Chemotherapy Regimens: A Systematic Review and Meta-analysis. Clin Oncol (R Coll Radiol). 2023 Sep 22:S0936-6555(23)00329-1. doi: 10.1016/j.clon.2023.09.009. Epub ahead of print. PMID: 37777356.