O tratamento com quimiorradioterapia não foi associado com maior sobrevida livre de recidiva na comparação com quimioterapia isolada em pacientes com carcinoma endometrial estágio III ou IVA. É o que apontam os resultados de Matei D et al, publicados na New England Journal of Medicine, que merece atenção na análise dos dados. A oncologista Solange Sanches, médica do A.C.Camargo Cancer Center e membro do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG) comenta os resultados.
Este estudo randomizado Fase 3 teve o objetivo de avaliar se radioterapia concomitante a 2 ciclos de platina e seguido por 4 ciclos de platina e taxano tem benefício na sobrevida livre de recidiva (desfecho primário) em pacientes com carcinoma endometrial estágio III ou IVA comparado a seis ciclos de quimioterapia. Endpoints secundários incluíram sobrevida global, efeitos tóxicos agudos e crônicos e qualidade de vida.
Resultados
736 pacientes foram incluídos na análise de sobrevida livre de recidiva; desses, 707 pacientes foram randomizados para quimiorradioterapia (N=346) ou quimioterapia isolada (N= 361).
Aos 60 meses, a estimativa de Kaplan-Meier foi de 59% dos pacientes vivos e livres de recidiva no grupo de quimiorradioterapia e de 58% no grupo tratado com quimioterapia (hazard ratio, 0,90; IC de 90%, 0,74 a 1,10). Os autores descrevem que a quimiorradioterapia foi associada a uma menor incidência de recorrência vaginal em 5 anos (2% vs. 7%; HR= 0,36; IC95%, 0,16 a 0,82) e a menor recorrência pélvica e do linfonodo para-aórtico (11% vs. 20%; HR= 0,43; IC95%, 0,28 para 0,66). No entanto, a recorrência à distância foi maior no grupo tratado com quimiorradioterapia (27% vs. 21%; HR= 1,36; IC95%, 1,00 para 1,86). “Cabe salientar que 85% das mulheres no grupo quimioterapia receberam o tratamento planejado versus somente 63% no grupo quimioradioterapia”, observa Solange.
Em relação ao perfil de segurança, eventos adversos de Grau 3, 4 ou 5 foram relatados em 202 pacientes (58%) no grupo quimiorradioterapia e em 227 pacientes (63%) no grupo tratado com quimioterapia exclusiva.
“O estudo permite concluir que a quimiorradioterapia não foi superior a quimioterapia exclusiva no tratamento das mulheres com câncer de endométrio avançado. Fica demonstrada a importância da quimioterapia nesse contexto, mas ao mesmo tempo deixa espaço para a pergunta: caso a radioterapia seja administrada após a quimioterapia, permitindo que a exposição ao quimioterápico seja no mínimo semelhante ao do grupo com QT exclusiva, poderíamos com esta estratégia ter o acréscimo do controle local?”, questiona a especialista.
Referência: Adjuvant Chemotherapy plus Radiation for Locally Advanced Endometrial Cancer - Daniela Matei et al - N Engl J Med 2019;380:2317-26. - DOI: 10.1056/NEJMoa1813181