José Mauricio Mota (foto), chefe do Serviço de Oncologia Clínica Geniturinária do ICESP, médico da Oncologia D’Or e ex-fellow no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, é primeiro autor de estudo publicado no JCO Precision Oncology que evidencia a eficácia da quimioterapia à base de platina no câncer de próstata metastático com alterações nos genes de reparo do DNA.
Alterações nos genes de reparo de danos do DNA (DDR) ocorrem em até 25% dos pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC). O objetivo do estudo foi avaliar a eficácia da quimioterapia à base de platina nessa população de pacientes em comparação ao grupo de pacientes sem alterações em genes de reparo do DNA.
Os pesquisadores avaliaram a resposta à quimioterapia com platina com base no status de alteração dos genes de reparo de danos ao DNA em homens com câncer de próstata metastático resistente à castração submetidos à pesquisa de alterações genômicas tumorais através do MSK-IMPACT, uma plataforma de next-generation sequencing. Foram considerados DDRmut pacientes com alterações deletérias em ATM, ATR, BRCA1, BRCA2, CDK12, CHEK2, FANCA, MRE11, NBN, PALB2, RAD50, RAD51, ou RAD51C.
Resultados
Entre outubro de 2013 e julho de 2018, 109 pacientes com mCRPC e com resultados de sequenciamento genômico disponíveis receberam quimioterapia à base de platina. Sessenta e quatro dos 109 pacientes eram refratários a taxanos e virgens de tratamento com inibidores da poli (ADP-ribose) polimerase (PARP). Entre esses pacientes, 16/64 (25%) tinham alterações em genes de reparo de DNA (DDRmut), tendo sido associado à maior probabilidade de atingir um declínio do PSA de 50% ou mais a partir do baseline (PSA50; odds ratio, 7,0; 95 % CI, 1,9 a 29,2).
Nesse subgrupo de pacientes, DDRmut foi encontrado em 16/64 pacientes (25%) e foi associado a uma maior probabilidade de atingir um declínio do PSA de 50% ou mais a partir do baseline (PSA50; odds ratio, 7,0; 95 % CI, 1,9 a 29,2). O resultado foi significante mesmo após ajuste para fatores prognósticos conhecidos como PSA pré-tratamento, escore de Gleason, e presença de metástases viscerais. Houve tendência a um tempo de tratamento mais longo com platina no grupo DDRmut (mediana, 3,0 x 1,6 meses; hazard ratio 0,55, 95% CI, 0,29 a 1,24), não tendo sido observada diferenças em sobrevida global.
Uma segunda coorte com 8 pacientes com câncer de próstata DDRmut que receberam terapia à base de platina após um inibidor de PARP foi também avaliada. Três dos 7 pacientes avaliáveis tiveram resposta radiográfica parcial ou doença estável e 2/7 avaliáveis tiveram uma resposta por PSA50. Nenhum dos quatro pacientes com mutações no ATM tiveram respostas à platina, independentemente da exposição prévia ao PARPi.
“A presença de mutação nos genes de reparo de DNA foi associada a melhor resposta por PSA em pacientes que receberam quimioterapia à base de platina após progressão a taxanos. Esse achado justifica a validação prospectiva desse potencial biomarcador para a seleção de pacientes para tratamento com quimioterapia baseada em platina. Respostas foram encontradas em pacientes com alterações deletérias em BRCA2, CDK12, FANCA e PALB2, mas não entre os pacientes com alterações em ATM. Também foram evidenciadas respostas radiológicas e por PSA entre pacientes com câncer de próstata DDRmut que haviam progredido a um inibidor de PARP. Estudos adicionais são necessários para determinar o papel preditivo de genes individuais na sensibilidade à platina no contexto de outros fatores clínicos e genômicos”, concluíram os autores.
Referência: Platinum-Based Chemotherapy in Metastatic Prostate Cancer With DNA Repair Gene Alterations - Jose Mauricio Mota et al - DOI: 10.1200/PO.19.00346 JCO Precision Oncology no. 4 (2020) 355-366. Published online April 16, 2020.