Análise retrospectiva publicada no Journal of Radiology and Radiation Therapy relata a experiência do serviço de radioterapia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, e avalia fatores preditivos de resultados em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas, estádios iniciais e clinicamente inoperáveis tratados com radioterapia estereotática corpórea (SBRT). Quem comenta é o médico especialista em radioterapia Robson Ferrigno (foto), coordenador dos Serviços de Radioterapia dos Hospitais BP e BP Mirante e primeiro autor do trabalho.
Por Robson Ferrigno
A radioterapia com técnica SBRT é considerada atualmente o tratamento standard para pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas estádios iniciais (IA – IIA) e considerados clinicamente inoperáveis, como alternativa à ressecção cirúrgica.
No serviço de radioterapia da BP, foram analisados os primeiros 82 pacientes nessa situação tratados com SBRT entre maio de 2013 e março de 2019. Com seguimento mediano de 25 meses, os resultados encontrados foram semelhantes aos da literatura, com sobrevida livre de recorrência local, sobrevida livre de doença e sobrevida global em 3 anos de 82,4%, 68,4% e 57,9%, respectivamente.
Na maioria desses pacientes (68%) foi utilizada dose de 48 Gy em 4 frações de 12 Gy, e em 32% dos pacientes foi utilizada a dose de 40 Gy em 4 frações pelo fato do tumor estar próximo da parede torácica ou de estruturas centrais do tórax. A sobrevida livre de recaída local foi menor no grupo tratado com dose menor (70% vs 89,9%; p=0,049).
Outro fator de pior sobrevida livre de recorrência local foi a histologia escamosa em comparação com o adenocarcinoma (91% vs 56%; p=0,023).
A principal contribuição dessa série é a confirmação de que a dose de SBRT para tratamento do câncer de pulmão de células não pequenas deve ser alta (dose biológica efetiva de pelo menos 100 Gy10), principalmente na histologia escamosa que, conforme dados de outras séries, também se mostrou mais rádio resistente.
Atualmente, baseados em nossa experiência e da literatura, continuamos usando a dose de 48 Gy em 4 frações para lesões periféricas e 50 Gy em 5 frações ou 60 Gy em 8 frações para lesões centrais ou próximas as estruturas críticas.
Acesse o trabalho completo para mais detalhes e discussão sobre esses resultados e os achados da literatura.
Referência: Stereotactic Body Radiation Therapy for Medically Inoperable Stages I and II Non-Small Cell Lung Cancer. Single Institution Retrospective Analysis of Outcomes and Predictive Factors - Robson Ferrigno, Maria Thereza Mansur Starling, Erlon Gil, Paulo Lazaro de Moraes, Pedro Henrique da Rocha Zanuncio, and Livia Alvarenga Fagundes Ferrigno - Journal of Radiology and Radiation Theapy