Estudo do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT) e do Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG) mostrou que a quimioterapia de consolidação não melhorou a sobrevida global em pacientes com câncer de pulmão não-pequenas células (CPNPC) estadio III submetidos à quimiorradioterapia concomitante. O oncologista Vladmir C. de Lima (foto), do A.C.Camargo Cancer Center, comentou os resultados para o Onconews.
O trabalho foi apresentado na 17ª Conferência Mundial de Câncer de Pulmão da IASLC, em Viena.
Aproximadamente 25% dos casos de câncer de pulmão não pequenas células recém-diagnosticados são de doença localmente avançado estádio III. Embora alguns pacientes sejam passíveis de ressecção cirúrgica, a maioria será tratada com quimiorradioterapia concomitante (CRT), enquanto a adição de quimioterapia de consolidação (CC) ainda é um tópico discutível.
Métodos
Os pesquisadores recolheram retrospectivamente dados de pacientes com CPNPC estádio III tratados em cinco instituições brasileiras de câncer: A.C. Camargo Cancer Center, Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB), Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e Instituto Nacional do Câncer (INCA). Os pacientes foram tratados nesses centros entre janeiro de 2007 e dezembro de 2011, e receberam quimiorradioterapia concomitante seguido ou não de quimioterapia de consolidação.
Os pacientes elegíveis tinham ≥ 18 anos e deveriam ter sido tratados com cisplatina ou carboplatina mais etoposide, paclitaxel ou vinorelbina, simultaneamente com a irradiação torácica (RT). Pacientes tratados com cirurgia ou quimioterapia neoadjuvante foram excluídos.
O endpoint primário foi a sobrevida global (SG) a partir do diagnóstico. A associação entre quimioterapia de consolidação e variáveis clínicas e demográficas foi avaliada pelo teste Pearson's Chi-square (X2). As curvas de sobrevida foram calculadas pelo método Kaplan-Meier e comparadas pelo teste log-rank. Análises univariadas e multivariadas foram feitas utilizando o modelo proporcional de Cox (CPM). P-values <0,05 foram considerados estatisticamente significativos.
Resultados
Foram coletados dados de 165 pacientes. A média de idade foi de 60 anos (variação: 27-79) e a maioria dos pacientes era do sexo masculino (69,1%), caucasiano (77,9%), tabagista ou ex-tabagista (93,3%) e estádio IIIB (52,7%). O adenocarcinoma foi o tipo histológico mais comum (47,9%). Perda de peso > 5% e PS ECOG 2 foram observados em 39,1% (n=61) e 14,6% (n=24), respectivamente. A mediana de seguimento foi de 25 meses.
Segundo o oncologista Vladmir Cordeiro De Lima, primeiro autor do estudo, na prática diária muitos pacientes acabam não recebendo o tratamento padrão. “O número de pacientes analisados foi muito maior, foram mais de 500 pacientes com doença estadio III, mas um percentual razoável de pacientes que seriam eventualmente candidatos a receber quimiorradioterapia receberam um tratamento de eficácia menor. Isso pode ter ocorrido por um conjunto de motivos que vão desde a falta de estrutura do centro de tratamento até a performance status e comorbidades dos pacientes. Essa análise estava fora do escopo do estudo, foi apenas uma constatação a partir dos dados levantados”, explica Vladmir.
A quimioterapia de consolidação foi administrada em 27 pacientes. A única variável associada ao CC foi o estágio T (X2 (4)=11,410, p=0,022), com mais tumores T3 recebendo CC do que o esperado. Não houve diferença estatisticamente significativa na sobrevida global entre os pacientes tratados ou não com CC (p=0,211), embora a taxa de sobrevida global em 3 anos tenha sido numericamente maior em pacientes que receberam a quimioterapia de consolidação (40% vs. 31%). A mediana de sobrevida global foi de 24 e 25 meses em grupos CC e não CC, respectivamente (HR 1,408, 95% CI 0,814-2,434). A administração da dose total de RT ≥ 61Gy foi a única variável independentemente associada com uma melhor sobrevida (HR 0,617, 95% CI 0,419-0,909, p=0,012).
“O estudo não mostrou benefício nos pacientes que receberam quimioterapia de consolidação. Os dados foram semelhantes àqueles já reportados em estudos maiores realizados em populações americanas, europeias e asiáticas. Vale ressaltar que entre os participantes selecionados se observou que o número de pacientes que recebeu quimioterapia de consolidação foi menor do que aqueles que receberam apenas quimiorradioterapia, o que provavelmente já sinaliza um reflexo da incorporação dessa ideia pelos oncologistas”, conclui o especialista.
Referência: Consolidation Chemotherapy Following Concurrent Chemoradiation for Stage III Non-Small Cell Lung Cancer: A Brazilian Multicentric Cohort - Vladmir Cordeiro De Lima, Clarissa Baldotto, Carlos Barrios, Eldsamira Sobrinho, Mauro Zukin, Clarissa Mathias, Facundo Zaffaroni, Rodrigo Nery, Gabriel Madeira, Alex Amadio, Guilherme Geib, Juliano Coelho, Maria Fernanda Simões, Gilberto De Castro r.- DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.jtho.2016.11.1177