Estudo de Walker et al. publicado no BMC confirmou a associação do tratamento quimioterápico com ganho de peso e possíveis alterações antropométricas deletérias, sugerindo que alterações da flora bacteriana podem contribuir para esses fenômenos através da indução da inflamação sistêmica.
Nesta análise, pesquisadores da Universidade de Alberta consideraram alterações no microbioma gastrointestinal de pacientes com câncer de mama em estágio inicial tratados com e sem quimioterapia para analisar a possível relação entre disbiose, resposta inflamatória sistêmica e alterações antropomórficas resultantes.
Foram inscritas 40 pacientes com câncer de mama inicial submetidas à terapia endócrina adjuvante, à quimioterapia adjuvante ou ambas as modalidades de tratamento. A partir de amostras de fezes, a microbiota intestinal foi avaliada por comparação metagenômica. Biomarcadores inflamatórios foram avaliados por análise proteômica do plasma e dosagem de calprotectina fecal. A composição corporal foi investigada por absorciometria de raios X de dupla energia para determinar os índices de biomassa.
Os resultados publicados no BMC mostram que, ao contrário do tratamento exclusivo com terapia endócrina, a quimioterapia resultou em ganho de peso estatisticamente e clinicamente significativo e em aumento na proporção androide/ginoide da distribuição de gordura. Os autores descrevem que pacientes tratadas com quimioterapia ganharam em média 0,15% da massa total por mês, em oposição a uma perda significativamente diferente de 0,19% naquelas que receberam apenas terapia endócrina. Após a quimioterapia também ocorreu aumento de duas vezes na calprotectina fecal, o que é indicativo de inflamação dependente de interferon e evidência de inflamação colônica. Walker et al esclarecem que essas mudanças antropomórficas e inflamatórias ocorreram em conjunto com um efeito dependente da quimioterapia no microbioma intestinal, conforme evidenciado pela redução na abundância e na variedade de espécies microbianas.
Em síntese, os pesquisadores descobriram uma ligação entre as alterações induzidas pela quimioterapia nas bactérias intestinais e o ganho de peso não saudável observado em pacientes com câncer de mama, apontando o caminho para ajudar os sobreviventes a evitar futuras doenças relacionadas à obesidade.
A obesidade tem sido associada a vários tipos de câncer, incluindo câncer de mama, e os oncologistas há muito observam que o tratamento oncológico parece agravar o ganho de peso. Estudos já demonstraram que, embora 50% das pacientes com câncer de mama estejam acima do peso ou obesas antes do diagnóstico, essa taxa sobe para 67% após o tratamento.
Referência: Walker, J., Joy, A.A., Vos, L.J. et al. Chemotherapy-induced weight gain in early-stage breast cancer: a prospective matched cohort study reveals associations with inflammation and gut dysbiosis. BMC Med 21, 178 (2023). https://doi.org/10.1186/s12916-023-02751-8