O oncologista Carlos Stecca (foto) é primeiro autor de artigo de revisão que avalia o papel da quimioterapia neoadjuvante antes das abordagens de preservação da bexiga em pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo. “Houve avanços significativos no campo do câncer de bexiga nos últimos 5 anos, e progressos importantes no tratamento sistêmico, radioterapia e cuidados de suporte. Assim, revisitar o papel da quimioterapia neoadjuvante nessa população de pacientes candidatos a preservação de bexiga se faz importante”, argumentam os autores em artigo publicado no periódico Seminars in Radiation Oncology.
A quimioterapia neoadjuvante (NAC) foi estabelecida como o padrão de tratamento para pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo (MIBC) submetidos à cistectomia radical (CR). A estratégia é baseada em ensaios clínicos randomizados que mostraram benefício de sobrevida de NAC antes de cistectomia radical em comparação com CR isolada. Tendo em visto o papel da NAC na erradicação de micrometástases e prevenção de recorrência de doença à distância, parece lógico considerar que seu benefício se estenderia também à população de pacientes submetidos à terapia trimodal. O estudo de fase III RTOG 8903, que explorou esse conceito, falhou em demonstrar superiodidade da NAC nos pacientes candidatos à terapia preservadora de bexiga, e os potenciais motivos desse resultado são explorados no artigo.
Os autores listam uma série de ressalvas importantes a serem consideradas, entre elas a mudança no perfil dos pacientes que optam pela preservação da bexiga, antes restrita a pacientes não elegíveis à cirurgia, mais velhos e frágeis, e que agora inclui pacientes mais jovens, sem comorbidades e sem contraindicação cirurgica, que optam pela preservação da bexiga e que são, consequentemente, elegíveis a quimioterapia neoadjuvante.
Também são discutidos aspectos e evidências relacionadas à segurança, tolerabilidade e eficácia da quimioterapia neoadjuvante antes de estratégias preservadoras de órgão, seleção de pacientes e perspectivas futuras, especialmente considerando-se o crescente papel da imunoterapia em pacientes com tumores uroteliais.
Em síntese, a quimioterapia neoadjuvante mostrou benefício de sobrevida significativo em grandes estudos quando administrado antes da cistectomia radical, especialmente em pacientes com resposta patológica completa. “A NAC antes da preservação de bexiga faz sentido lógico e clínico em pacientes adequadamente selecionados, usando regimes de quimioterapia contemporâneos e técnicas modernas de radiação. O uso de NAC não é apenas viável e seguro, mas também uma opção eficaz para pacientes que consideram uma abordagem futura de preservação de bexiga”, concluem os autores.
Referência: Stecca C, Mitin T, Sridhar SS. The Role of Neoadjuvant Chemotherapy in Bladder Preservation Approaches in Muscle-Invasive Bladder Cancer. Semin Radiat Oncol. 2023 Jan;33(1):51-55. doi: 10.1016/j.semradonc.2022.10.006. PMID: 36517193.